QUITO A RIOBAMBA - 200KM - FERROCARRIL NARIZ DEL DIABLO
Depois de 18 dias juntos a Kambada se separa. Leo, Fernando e David descem para o Brasil a toque de caixa, pois todos tem compromissos inadiáveis. Viajar por muito tempo pega no profissional e no conjugal.
Eu e Roger ficamos para fazer o Trem del Diablo, nosso último compromisso com o roteiro. Fomos para Riobamba, 200 Km de Quito e contratamos o passeio. Fantástico, o trem saiu às 7 da manhã, e na realidade não é um trem e sim ferrocarril, pois não tem vagões, somente a maquina com o espaço para passageiros.
Com 120 anos de história, foi denominado trem del diablo, porque em um dos trechos de construção, tinha que se passar por uma imensa rocha em forma de um nariz adunco, a 3.800 metros de altitude e 4.000 operários que trabalhavam na construção, morreram de doenças, acidentes de trabalho e outras fatalidades.
Criou-se um estigma e ele consolidou-se como Trem del Diablo. O percurso que fizemos foi entre Riobamba e Alausi, 75 km. O Ferrocarril passa por caminhos no alto da cordilheira, basicamente a 3.000 metros de altitude média, atravessando comunas andinas e povoados.
Sentimos Um choque cultural muito grande, onde os nativos fogem de câmeras fotográficas,meninas abaixam a cabeça e adultos se retiram, nos deixando claro que turistas que invadem seus espaços, não são bem vindos. A não ser pelos comerciantes, que criaram um pacto silencioso e forçado, para eles engolirem os visitantes.
O trajeto passa por campos de cultivo, criação de ovelhas, pequenos sítios , penhascos imensos, pontes de madeira que balançam muito com o ferrocarril. Haja adrenalina. Há 2 paradas em lugares já pré determinados, para um café e tour por monumentos de interesse histórico. Uma guia equatoriana descreve todo o trecho da viagem indicando os lugares de interesse e o que representou na história do Equador.
Depois faz 3 perguntas sobre o roteiro, quem souber responder ganha brindes da empresa. O Roger ganhou um botton porque serviu de modelo para uma demonstração de como os homens andinos usam sua vestimenta típica.
Voltamos ao hotel, montamos as bagagens nas motos e caímos na estrada rumo a Macara, divisa com o Peru, onde pegamos chuva e neblina na Cordilheira Real, e presenciamos um pós acidente, onde 1 equatoriano numa KTM 990 levou um tombo em uma curva e quebrou a bacia.
Ato reflexo, paramos as motos (código tácito de conduta de motociclistas em motoviagens, de ajuda e solidariedade, custe o que custar) para socorrer o companheiro, mas ele estava com um grupo de 5 que iam para um encontro em Cuenca, que já tinham chamado socorro e ele sentia muita dor. Agradeceram nossa atitude, apertamos a mão do acidentado, desejamos buena suerte e mejjoras e seguimos viagem.
Segui pensando, como corremos riscos sempre, nossas vidas estão na mão de Deus. Motociclista engraçadinho e metido a foda vai pro chão rapidinho. Motoviagem é curtição e não Iron Butt. Quem quiser competir, vai pra pista de corrida e não para as estradas. Tem que respeitar a moto. Ela não tem coração e se for desafiada, você paga um preço, normalmente muito caro. Amanhã, rumo ao Pacífico em nossa trajetória de retorno.