A HISTÓRIA... A ATUALIDADE
A história narrada neste livro ocorrida 50 anos atrás e da qual participei, permite-me fazer comentários sobre a transformação que o motociclismo sofreu no decorrer desses muitos anos, até à atualidade. E se só agora o divulgo, as razões estão devidamente explicadas no livro.
Na ocasião e até mesmo antes, haviam somente motociclistas amantes do esporte, que se deliciavam em passear mundo afora, sentindo o vento, a chuva, o sol e até a interminável poeira tocá-los com encantadora firmeza. São fenômenos da natureza que acompanham todos os motociclistas nas ruas, nas estradas, caminhos ou trilhas que percorram. Fenômenos este que dão um toque especial ao esporte.
As motos eram todas importadas, vindo pequena quantidade dos Estados Unidos, e a maioria da Europa. E isto acontecia por não haver fabricação no Brasil, mas mesmo assim era grande o número de aficionados.
Desde à época já haviam eventos envolvendo turismo, feira de negócios, inclusive competições esportivas, principalmente em São Paulo, aproveitando aqui para citar a mais famosa de todas: “24 horas de Interlagos”. Evento esse que neste livro mencionei ter minha moto dele participado, porém com outros proprietários.
Mais adiante, em consequência da proibição de continuar importá-las e também às peças, o número de motociclistas caiu sensivelmente.
Mas com a pioneira instalação em Manaus-AM de uma montadora de motos nos anos 70 houve então a retomada do crescimento, fato que contribuiu para o expressivo aumento de usuários. E graças a essa iniciativa, o que estava decaindo tomou novo fôlego ao incentivar e criar novas gerações de motociclistas. E isto, porque:
Com a garantia de haver boas motos, assistência técnica e peças para imediata reposição, amadores retornaram com ênfase à atividade esportiva e de lazer, surgindo porém, a partir daí, sua utilização para fins comerciais com a pioneira atividade dos motoboys, seguida pela de moto táxis e daí por diante através de várias outras atividades. E mediante essas novas criações, a atividade deixou de ser exclusiva ao amadorismo.
Se por um lado o surgimento da classe profissional fez crescer consideravelmente o número de motos e pilotos, por outro lado causou sérios reflexos no trânsito das grandes cidades, por não terem sido estas adequadamente preparadas para atender essa enorme demanda, atualmente com vários milhões de usuários que por sua vez talvez não tenham sido devidamente orientados para fluírem através de intenso e desordenado trânsito.
Acontece, também, que estes novos profissionais, embora habilitados e certamente treinados, nem todos são amantes do esporte, pilotando por necessidade e não por mero prazer, usando por isso a motocicleta como um meio de vida para seu sustento, inclusive da família, o que é justo, compreensível e até louvável.
Mas se conseguirmos que haja um entrosamento maior entre os amantes e os simplesmente profissionais, estes, sem dúvida, serão também amantes do esporte, pois quem senta numa moto ‘e tem a oportunidade de finalmente entender com toda serenidade esse delicioso momento místico de total liberdade’, sem dúvida tornar-se-á também um amante.
Será fundamental, contudo, que os órgãos por eles responsáveis, façam entender que esse carisma existente nas motos só lhes será transmitido se assim o desejarem, ou seja, abrindo seus espíritos para dessa forma receber tudo de bom que ela proporciona ao seu dono. (Existe no livro um capítulo “A Motocicleta”, que muito bem define a interação homem/motocicleta e os benefícios para ambas as partes).
E para conseguir-se esse propósito será apenas uma questão de orientações positivas, tempo, paciência e perseverança.
No início do livro mencionei serem os motociclistas dos “Anos Dourados” bastante solidários e para exemplo, citei: “Se qualquer deles parasse para apreciar uma paisagem ou qualquer outro motivo, ‘irmãos’ que pelo local transitavam, paravam perguntando se poderiam ajudar, por pensarem ter acontecido algum problema com ele”. Mencionei também que hoje em dia isso é perigoso fazer, pelo risco de ficar-se exposto a assaltos e outros tipos de violências. E até uma brincadeira fiz ao colocar: “Se correr o bicho pega. Se ficar o bicho come”.
É que, sendo a moto ágil e rápida no difícil trânsito das grandes metrópoles e por isso possibilitar fuga de uma possível perseguição policial, bandidos acabaram optando por esse tipo de veículo para cometerem crimes. E é, valendo-se dessa alternativa, que praticam vários delitos, enodoando dessa forma não somente o esporte, mas também a classe dos motociclistas, amadores e profissionais.
Por seu lado, a polícia vem procurando atuar com bastante eficácia, haja vista a atual implementação de Policiais Militares motociclistas, que têm por objetivo combater, corpo a corpo, esses delinquentes.
Não querendo ser simplista por ficar num mero discurso do que foi e do que é e somente criticar, mas sim desejar que essa chaga criminosa seja abolida do motociclismo, a seguir apresento minha sugestão, respondendo a pergunta abaixo:
- É possível fazer alguma coisa? Perguntaria alguém!
- Sim! É claro que é possível, respondo! E para um bom início, afirmo ser necessário que os atuais motociclistas se conscientizem da força que terão se todos estiverem unidos. E o mais importante, que acreditem nisso!
Os Moto Clubes e Federações, que são entidades importantes e têm a missão e competência para fazer essa união (e regularmente a vêm fazendo), precisam dedicar mais ênfase a essa finalidade através de reiteradas reuniões, exposições e divulgações, no sentido de mostrar aos bons motociclistas a importância do mútuo respeito e a necessária solidariedade que deve haver entre todos os ‘irmãos”, sejam eles amadores ou profissionais.
Por sua vez, Revistas especializadas também precisam colaborar mais, apresentando e enfatizando matérias conclamando pilotos para essa postura, tendo em vista a dimensão e credibilidade que elas já desfrutam junto à classe.
Outrora os próprios motociclistas aplicavam os devidos corretivos para manter essa união, coisa que atualmente não é mais possível fazer devido ao recrudescimento da violência e às alterações feitas na lei penal. Mas existem outros meios que além de simples estão se mostrando bastante eficazes, que podem e devem ser adotados.
Temos como exemplo o ”Instituto da Denúncia”, que positivamente vem contribuindo com as autoridades no combate aos contrabandistas de armas e de drogas, na prisão de foragidos e outras ocorrências delituosas, oferecendo total segurança a todos que denunciam e colaboram. E o mais importante é que está dando certo!
Inicialmente será oportuno proceder assim: Viu ou ouviu algo prejudicial (furto, roubo, ameaça, acidente no trânsito, ou o que mais for), abasteça-se de possíveis detalhes e denuncie. Denuncie, mesmo que seja de forma anônima como a maioria faz e verá que em tempo muito breve as coisas começarão a mudar... e para melhor... tenha certeza disso! E a classe com maiores condições para isso fazer é a dos profissionais, porque: Circulando constantemente pelas ruas, vielas e becos, seja nos morros ou no asfalto, são os que podem captar e transmitir muitas novidades e rapidamente.
E tenha certeza. O maior interessado é você, motociclista:
- Se amador, caso aconteça algo de ruim para sua moto, terá prejuízo no seu querido patrimônio e no seu gostoso lazer;
- Se profissional, ao perder sua ferramenta de trabalho (moto), suas economias estarão em jogo, assim como o sustento da sua família, a sua vida e a dos demais colegas de profissão por continuarem todos sob o risco de violências. Situação que não o deixará trabalhar, nem passear tranquilamente com sua família.
O “Instituto da Denúncia”, efetivamente, foi um grande veículo para o extermínio de traficantes entrincheirados nos morros e favelas do Rio de Janeiro. E foi graças às denúncias anônimas, que policiais puderam localizar paióis de armas e munições, esconderijo de entorpecentes e de traficantes e com isso prender grandes chefões. Caracterizando com isso ter sido ‘a denúncia’ o ‘estopim’ que detonou a ocupação e pacificação de morros e favelas, onde outrora bandidos e traficantes imperavam.
Mas para que isso aconteça no motociclismo será necessário começar, e começar logo! Você é o maior interessado e beneficiado.
Surgiu a oportunidade, comece, não retarde porque o resultado será maravilhoso para os motociclistas amadores e profissionais, pela possibilidade de voltarem a circular totalmente despreocupados nas suas motos durante seu trabalho ou no lazer com suas namoradas e familiares, fazendo então com tranquilidade belos passeios estrada afora, curtindo a natureza e a hospitalidade do povo brasileiro em qualquer lugar que forem, seja no litoral, no interior, ou em qualquer dos quatro pontos cardeais do Brasil, ou do mundo.
E convido, se você puder fazer uma aventura estrada afora faça, e tenha por certeza que ficará incentivado a fazê-la muitas outras vezes porque é místico, é sensacional!!
E se for numa... só você poderá descrever a aventura.
Boa sorte e feliz pilotagem!
João Cruz
j.v.cruz@oi.com.br