PASSEANDO POR RECIFE
Depois do almoço, dispostos a darmos nosso passeio, saímos em direção às praias e durante longo tempo ficamos percorrendo Boa Viagem, vendo em toda extensão da praia, pequenas cabanas com tetos de palha, onde serviam bebidas e petiscos. Eram muitas. Em uma ou outra dessas várias cabanas parávamos para conversar e beber alguma coisa, e assim podíamos apreciar melhor aquela grande extensão de mar sob um enorme céu azul, com algumas nuvens brancas nele pairando.
Na seqüência, se não me engano, fomos até a praia de Piedade que era pouco freqüentada, onde por estarmos sós demoramos um pouco e tivemos a oportunidade em conhecer-nos bem melhor.
Esquecendo-nos da hora, quando demos por conta já estava escurecendo. E por continuar a moto sem farol, imediatamente voltamos retornando pela praia de Boa Viagem.
Nesse retorno e dirigindo-nos para o bairro de Areias, ao passarmos em frente a um quartel no bairro de Afogados onde a rua, como a maioria delas era de paralelepípedos e mal iluminada, eis que de repente e já em cima do problema, vejo à minha frente paralelepípedos soltos e desordenados na rua e com pó de pedra em montulhos e também espalhado sobre eles. O local se encontrava assim porque estavam recolocando os paralelepípedos no lugar após conserto que fizeram em canos subterrâneos, mas não tiveram o cuidado em colocar qualquer sinalização ou aviso, e aí deu no que deu.
Entrei sobre os paralelepípedos que estavam soltos e fiquei brigando com o guidão para manter a moto equilibrada a fim de passar pelo obstáculo, mas não deu. Caí e no impulso da velocidade o “quique” da moto me puxou pelo joelho direito num pequeno trecho. Já no chão e após ter parado, olhei para trás e vi a Zezé que, cuspida da mota logo no primeiro solavanco, ainda dava largas passadas na tentativa de equilibrar-se. Assim que parou de dar as passadas e já ia dominar seu equilíbrio... caiu! Aquilo foi engraçado, mas não era hora de rir. Levantei-me, fui até onde ela estava, ajudei que se levantasse e verificamos que havia sofrido apenas pequenos arranhões nas palmas das mãos. Fora isso, só o susto, felizmente.
Voltei até a moto, levantei-a do chão e reparei haver um pouco de óleo e também gasolina derramada sobre o pó de pedra, mas como não causaria nenhum perigo deixei como estava. Notei também que o tanque de gasolina tinha sido levemente amassado pelo guidão.
Sentindo que haveria problema com a minha perna, pois estava o joelho sangrando e já um pouco adormecido em conseqüência do traumatismo causado pelo “quique” que caíra sobre ele e ainda arrastou-me por um pequeno trecho, perguntei à Zezé se sabia onde poderíamos nos medicar. Respondeu que no caminho, um pouco mais adiante, havia um Posto do SAMDU (Assistência Médica e Domiciliar de Urgência). Na época havia Postos em todo o território nacional e ficavam abertos 24h todos os dias. (Antigamente as coisas eram diferentes. Instituições desse tipo funcionavam beneficiando o povo, presumindo-se com isso haver menos políticos corruptos).
Quando lá chegamos meu joelho já começava a endurecer, pelo fato da musculatura estar esfriando em razão do tempo já decorrido.
Atendeu-nos uma gentil enfermeira que tratou primeiro da Zezé e somente depois de mim, por ser meu caso mais demorado, porque, além de tratar do ferimento meu joelho, teria de enfaixá-lo.
Terminado todos os curativos, agradecemos e saímos.
Não mais conseguindo “quicar” a moto com a perna direita por já estar endurecida, então inclinei a moto até encostá-la em uma parede e com o peso dela fiz um contrabalanço para poder “quicá-la” com a perna esquerda. Deu certo! Pegou na primeira “quicada”.
Dali fomos direto para casa, deixando a moto no jardim que havia na frente.
Quem ficou cuidando de mim durante o tempo do meu restabelecimento foram: Zezé e a empregada da casa, Maria, que no final ganhou uma gorjeta e ficou toda feliz, desejando que eu caísse mais vezes, foi o que me falou brincando. Mas quem todo dia espontaneamente fazia curativo no meu machucado era a Zezé.
Sabendo que eu ficaria de “molho” alguns dias, o Fernando resolveu visitar parentes da mulher dele numa cidade chamada Guarabira que, segundo informou, ficava cerca de 4 horas viajando de ônibus em chão de terra e pretendia ficar por lá alguns dias. E assim fez.
Lembro-me ser dia 6 de março e eu me encontrava de “molho” com a perna dura e a ferida por cicatrizar. E para completar tinha o caso do dinheiro que ainda não havia chegado ao Banco no centro da cidade.
Sei que no dia 9 de março ainda continuava de “molho” e já não mais agüentava ficar dentro de casa. Para exercitar a perna prejudicada e saber da melhora, resolvi andar um pouco na rua aproveitando que o tempo estava bom.
Nesse mesmo dia, felizmente, recebi da Zezé a agradável notícia da chegada do dinheiro no Banco Nacional.
Fui com ela até lá, retirei o dinheiro e imediatamente paguei-lhe a importância que nos emprestara. Achando onde havia pneu para a roda traseira, deixei para comprá-lo quando estivesse andando com a moto, porque não iria carregá-lo agora na mão.
Tendo retornado de Guarabira à noite e sabendo da minha melhora, o Fernando falou para irmos até Campina Grande assim que eu pudesse, para fazermos a entrega dos bilhetes da Gabriela e da Mariazinha, acrescentando que no caminho poderíamos passar por João Pessoa para que eu conhecesse a belíssima praia de Tambaú.
Achando a idéia excelente, pois já estava com algum dinheiro e bem melhor do meu joelho, concordei e combinamos de primeiramente ajeitarmos a moto.
No dia seguinte, 10 de março, fizemos alguns preparativos necessários, conforme segue: Compramos e trocamos o pneu traseiro; soldamos o paralama traseiro que já estava quase caindo; trocamos o óleo do cárter (usava Castrol 50); e abastecemos o tanque.
Aproveitando o fato de estarmos circulando na cidade, resolvemos passar no Jornal do Commercio e por sorte falamos com um repórter, sendo por ele entrevistados.
Esse dia já foi um teste para o meu joelho que, apesar de não estar bom, nem ter a ferida cicatrizada, já dava para pilotar. Estando então tudo ajeitado, resolvemos dar mais umas voltas a fim de fazermos um teste maior, visitando então os seguintes bairros: Espinheiro, Campo Grande, Encruzilhada e Jardim 13 de Maio.
No outro dia, 11 de março, animados com a nova empreitada e após tudo pronto, despedimo-nos do pessoal que ficaria aguardando a nossa volta de Campina Grande-PB, e partimos em torno das 08:30h em direção à Campina Grande, acontecendo porém de no caminho o Fernando ter aprontado uma das suas...