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Como sempre, acordei por volta das 06:00h, mais cedo que o Fernando e tratei de agilizar nossa saída colocando a moto para fora do quarto com todo o material que nela estava e verifiquei se havia algum problema a ser ajeitado. Nada havendo, fiquei aguardando que ele acordasse. Olhei o tempo e vi estar nublado, porém algo de bom estava acontecendo: a chuva havia finalmente parado.
O Fernando acorda e diz que também desejava sair logo para abreviar nossa chegada ao Rio, mas retruquei dizendo: Espera aí. Agora com dinheiro, antes de viajar vamos é tomar um bom café da manhã na cozinha dessa pensão que parece ser asseada.
Estávamos na copa tomando tranquilamente nosso café, por sinal muito bom, servido com pão, manteiga, queijo, geléia e até aipim cozido, mas já havíamos notado que desde nossa chegada ali, vinha de um cômodo qualquer da pensão, sons de alguém gemendo. Havia ocasião em que o gemido era tão alto, que incomodava-nos. E o som emitido indicava ser de voz feminina.
Incomodados e curiosos com aquilo, perguntamos à senhora que nos estava servindo, do que se tratava, pois parecia que alguém estava sofrendo muito. Ela respondeu não ser grande coisa, que por isso não nos incomodássemos. Era apenas de uma forte dor de cabeça que uma pessoa estava sentindo.
Não! Aquela resposta não convenceu! Até aceito que uma dor de cabeça incomode e faça a pessoa gemer. Mas daquele jeito... Não! Acompanhados da tal senhora, fomos até ao cômodo onde estava a pessoa que gemia.
Vimos uma menina nova, magra, talvez com uns 14/15 anos, que poderia até ter mais, visto que em locais pobres, crianças se alimentam mal e por isso parecem ter menos idade que na realidade. Deitada numa cama de solteiro, contorcia-se de dor.
Acredito que ela nem prestou atenção em nós porque, sem parar, se virava de um lado para o outro, sempre gemendo. Preocupados com aquilo, perguntamos para a tal senhora o que realmente havia, pois poderíamos ajudar se fosse possível. Ela então conta: Era sua filha e devido a um gesto impensado por parte da menina, resultara uma infecção que já estava agora perigosíssima. Para esconder um problema que fora o resultado de um namoro, a menina arranjara outro ainda maior, que acabou gerando essa grave infecção.
Não havia ainda levado a filha ao médico em Jequié, porque ninguém conseguia passar na estrada e ela estava, há dias, aguardando uma oportunidade.
Não conformado com a resposta, disse-lhe: Se nós ontem à tarde viemos de Jequié na moto, podemos voltar e levar a menina, pois são apenas cerca de uns 40 km. Ela aqui sem recursos irá sofrer e poderá até morrer. Ir pela estrada haverá risco sim, mas será um risco calculado.
Veja bem: As bolsas e maletas ficariam aqui. Ela iria na moto entre mim e o Fernando, que por sua vez a protegeria com os braços passando-os por baixo das axilas dela e segurando em mim. Dessa forma ele a ampararia, não deixando que caísse. Iríamos devagar até ao hospital a fim de evitar trancos em obstáculos. Só precisaríamos de um documento que nos autorizasse fazer isso.
Agora faço uma pausa: Pensando bem, só dois malucos poderiam ter uma idéia dessas por colocar em risco a integridade física da menina, e as terríveis conseqüências que cairiam sobre os dois se por acaso acontecesse o pior. Mas por falta de iniciativa da mãe da menina, algo tinha de ser feito. Afinal, a garota estava morrendo!
Grande abraço
João Cruz
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