As Viagens de Ricardo Lugris

A ESCÓCIA E ILHAS HÉBRIDAS

 
Uma viagem em torno do whisky

Por: Ricardo Lugris


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Você pode imaginar vastas regiões completamente desertas de gente e casas em plena Europa?

Você pode idealizar um lugar onde podem se passar horas sem que você cruze com um carro em uma estradinha sinuosa, apenas com a largura suficiente para um só veículo de cada vez, sempre no velho mundo?
Assim são as Highlands no norte da Escócia.
Seua caminhos estreitos, com asfalto apenas pousado sobre o relevo natural da paisagem, permitem o cruzamento de veículos somente em áreas assinaladas e o prazer de conduzir minha BM aqui, a suave acomodação do telelever ao terreno se equivale à sensação da montanha russa ou de um tobogã.
A moto é como voar sem tirar as rodas do chão, costumo dizer.

Decidi percorrer com minha mulher, o norte da Escócia e as Ilhas Hébridas, de onde se fabrica o melhor “Single Malt Whisky” de todo o país.

A maneira mais rápida de chegar à terra desses descendentes de vikings, famosos por sua forte personalidade, sua cultura e tradições em um meio extremamente árido e hostil, é através de um ferry que sai de Zeebrugges, na Bélgica.

Na manhã seguinte, você desembarca em Hull upon Avon perto de York, no norte da Inglaterra.
Ali, por simpáticos caminhos secundários, cruzando vilarejos de puro caráter inglês, tendo sempre o cuidado de rodar pelo lado esquerdo da estrada, tomando as rótulas pelo mesmo lado, você vai chegando à fronteira entre a Inglaterra e a Escócia.
Aqui, aproveitamos para conhecer o “Muro de Adriano” (Adrian Wall) , muralha de pedras construída pelos Romanos há dois mil anos ocupantes da Inglaterra, para segurar os escoceses, aqueles bárbaros totalmente indomáveis .
Minha mulher e eu estamos ansiosos para entrar no país onde a história se confunde com a própria cultura e a tradição de seu povo.
As paisagens são extraordinárias, suas montanhas, seus lagos, sua costa com praias de areia branca e o mar de um azul turquesa.
Estamos em Julho e ninguém entra no mar. A água é muito fria.


Faz 12 graus, um céu cinzento e ameaçador. Seguramente vai chover antes do final do dia.

Aliás, chover aqui é uma arte.

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A Escócia encontra-se em latitudes equivalentes à Escandinávia, seu clima pode mudar de uma hora para outra, sem pré aviso.
Passamos rapidamente pelo vilarejo de Lockerbie, no sul da Escócia. Destruído há 10 anos pela queda de um 747 da Pan Am exatamente no meio da cidade. Triste memória, triste lugar.
Nosso primeiro destino será Edimburgo, a sóbria e espetacular capital dos escoceses. Seu castelo imponente no meio da cidade com muralhas em tom castanho tem um estranho brilho ao cair da tarde, exatamente na hora em que chegamos. O melhor meio de se hospedar na Escócia, assim como nos outros países do Reino Unido é o B&B, (Bed and Breakfast).
Você se hospeda na casa do habitante, em geral belas residências tradicionais e como o nome diz, paga pela cama e pelo café da manhã.


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Sempre muito gentis e curiosos, seus anfitriões adoram saber de onde você vem e para onde se dirige.
Dois dias em Edimburgo nos dão a dimensão desta bela e histórica cidade agradável e orgulhosa, representante fiel do caráter de seus habitantes.
À noite vamos assistir o “Royal Military Tatoo”, festival mundial de bandas militares.
O espetáculo é maravilhoso, empolgante, sobretudo quando chegam as bandas escocesas com suas centenas de gaitas de foles, tocando em uníssono.
Juro para vocês, as muralhas do castelo de Edimburgo onde se realiza o festival, vibram.
No dia seguinte com o som estridente de centenas de gaitas e tambores ainda ressoando em nossos corações, tomamos a estrada em nossa fiel GS, contentes de ganhar caminho, sempre rumo norte.
Chove fininho e faz frio. Nossa roupa agüenta bem. O moral é alto.


Graça aperta suas luvas e fecha o capacete em meio a um belo sorriso.

Estamos curiosos por ver o país.

A estrada vai tomando contornos mais sinuosos, a paisagem vai se tornando mais rochosa de relevos marcantes, percebemos as montanhas e a imensidão dos vales.. Apesar de não serem muito altas, suas cores e sombras são tão impressionantes que nos fazem quase esquecer que temos que manter sempre nossa mão esquerda na estrada.
As casas e vilarejos vão se espaçando. Os campos pontilhados de ovelhas me lembrar as coxilhas do meu Rio Grande natal.

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Há 300 anos, senhores do país, os ingleses expulsaram as pessoas que viviam nesta região para dar espaço para a criação de ovinos.
Hoje esses animais aos milhares, fornecem uma das melhores lãs do mundo.
Convidado por um grande grupo aeronáutico, devo participar de uma conferência de dois dias em Gleneagles, um fantástico hotel, com dois campos de Golfe escolhido por Madona para realizar seu casamento.
Algo raro em minhas viagens, estarei combinando o prazer da moto com um pouco de trabalho, pois teria uma apresentação a fazer nessa conferência e, por que não, dois dias de golfe, outra grande paixão para mim..
Foi muito engraçado, (ao contrário dos outros convidados que vinham de avião), chegar a esse sofisticado hotel montados em nossa moto.



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O carregador de malas saiu da recepção, depois de alguma hesitação, para pegar as valises que retirávamos das caixas da GSA.
Quando terminou de levar as valises para dentro, joguei a chave da moto para ele e disse em tom de brincadeira:
Estaciona!
Tomando um susto, ele, um grande escocês ruivo e rosado, pegou a chave, um pouco intrigado, abriu um grande sorriso e perguntou:
Posso mesmo? Eu tenho uma moto, mas não tão grande como a sua...
Claro. Disse eu. Pode levar a moto para estacionar. E fui para dentro do lobby.
Com o canto do olho, percebi que o carregador/manobrista exibia um fantástico sorriso ao dar partida na moto.


Nada como fazer alguém feliz.


Ficamos dois dias nesse extraordinário hotel, com direito a participar de um jantar tipicamente escocês onde todos os convidados, incluindo eu, foram vestidos a rigor em trajes tradicionais da escócia, a famosa kilt (foto).

Grande momento. O traje é sem dúvida muito elegante.

Foi a primeira vez que eu usei saia e minha mulher, calça comprida em uma festa.
Após a conferencia, deixamos o hotel sob o olhar curioso e admirado dos outros participantes .
(Não sem antes ter o nosso famoso manobrista “peruando” para ir buscar novamente minha moto no estacionamento.)
Desta vez, dei meu capacete a ele e disse que ele poderia ir dar uma volta na estrada enquanto eu fechava minha conta na recepção.
Saímos em direção a Fort Williams, pela estrada dos lagos que leva às Ilhas Hébridas, às margens do famoso lago “ Loch Ness”, aquele do célebre monstro.
O “Monstro de Loch Ness”, na verdade, não passou da brincadeira de um fotógrafo nos anos 30 que resolveu incluir a figura de um réptil em uma foto do lago e a lenda foi criada. Uma espécie de photo shop da época.
Levando em conta que a escócia é um país repleto de lendas, fantasmas, e personagens mitológicos, foi fácil criar a lenda desse monstro.
Hoje, todos sabem que o “monstro” nunca existiu mas nem por isso deixam de aproveitar para ganhar dinheiro com os turistas e todos os objetos e suvenires que podem ser vendidos relacionados com o assunto.
De qualquer forma, o Loch (Lago em Gálico) Ness é espetacular com suas águas escuras , profundas e misteriosas e a estrada que o contorna dá exatamente o clima sóbrio e selvagem que você espera encontrar nas Highlands Escocesas.
A chuva deixara de incomodar por um momento e o ar, com cheiro de terra molhada não nos deixava esquecer que é uma maravilha percorrer o mundo em uma moto. Aliás, uma das coisas que mais gosto quando viajo de moto é exatamente sentir os cheiros que vamos percebendo no nosso entorno.


A percepção olfativa que você tem na motocicleta faz com que você se sinta parte integrante da paisagem.
Quantas vezes não passamos ao longo de uma floresta de pinheiros e sentimos aquele maravilhoso perfume?
Quantas vezes alcançamos a beira do mar e a maresia invade nosso capacete?
Na Grécia e na Turquia, as figueiras tem um perfume extraordinário no final do verão.
Você pode mesmo sentir a chuva chegando pela mudança no perfume do vento.
Mesmo quando você passa ao lado de fazendas, vai sentir aquele cheirinho característico de bosta, neste caso, humildemente lembrando quem somos neste universo sem fim.
Enfim, voltando ao perfume de terra molhada, aproveitamos um castelo medieval instalado em uma pequena ilha e fizemos uma pausa, entre uma chuva e outra e nos instalamos em piquenique para relaxar e apreciar a bela vista.


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Em países onde o custo de vida é mais alto, temos o hábito de levar na topcase uma bolsa térmica onde colocamos um kit básico de talheres, pratos descartáveis e copos.
Todas as manhãs, passamos em um supermercado e compramos o suficiente para fazer sanduíches e provar as delícias locais..

No meio do dia, escolhemos um lugar simpático, com boa paisagem e passamos uma horinha tranqüila comendo e comentando nosso dia e o privilégio de poder estar ali tendo como fundo sonoro apenas os click-clacks do motor da GS esfriando.
No norte da Europa, sobretudo no Reino Unido e na Escandinávia, você tem boas mesas de piquenique colocadas em lugares estratégicos para os turistas que preferem ser um pouco mais econômicos durante sua viagem.

Uma pausa assim, sem pressa nem ansiedade, dá uma sensação de liberdade que deve ser, sem dúvida, apreciada em toda sua amplitude em um lindo dia de férias.
Sempre por pequenos caminhos pois não há auto-estradas no norte da Escócia, sem esquecer de manter a mão esquerda, vamos percorrendo paisagens inacreditáveis.

Hospedados nos simpáticos Bed and Breakfast, temos a oportunidade de conviver com os locais, gente curiosa e amável que abrem suas casas a desconhecidos com a maior confiança.
Em um dos B&B, fomos recebidos por uma senhora sorridente, em torno de 70 anos de idade, proprietária da casa e que nos levou até o quarto que ocuparíamos aquela noite.
Depois de nos mostrar como funcionava tudo, luzes, ducha, banheiro, etc, perguntou se aceitaríamos tomar um chá com ela.
Dissemos que sim e ela nos serviu o chá na sala de jantar e estivemos ali, por agradáveis minutos a nos divertir com sua curiosidade e seu adorável senso de humor.

No dia seguinte, após o fantástico café da manhã, com ovos e bacon, ela nos informou que precisava sair para umas compras.


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Eu disse então a ela que estaríamos indo embora logo após abastecer a moto e que eu precisava passar em um caixa automático para retirar algumas Libras e poder pagá-la.
Teria que esperar que ela voltasse?
A resposta foi surpreendente.
“Quando você voltar, deixe as 40 libras (60 dólares) sobre o criado mudo, eu vou ainda estar fora, apenas puxe a porta quando sair. Tenham uma linda viagem pela Escócia.”
Como pode alguém ser desonesto com uma pessoa assim?
Subindo para o norte sempre pela costa oeste, passamos por uma pequena e adorável cidade chamada Oban.

Aqui, se encontra uma das 14 destilarias que produzem os melhores “malt whiskies” de toda a Escócia.


Com o mesmo nome, o whisky Oban oferece a oportunidade de visitar sua destilaria, mas não podemos fazer fotos.

A visita, acompanhados de um grupo de turistas italianos, se inicia com uma degustação da produção local.
Graça começa a me olhar atravessado quando provo o primeiro gole, descanso o copinho sobre o balcão e peço outro.
Em português digo a ela: É grátis....
Aprendemos que os malt whiskies são fabricados com apenas três ingredientes, a cevada, a levedura e água corrente.
Uma vez visto o processo de fermentação do malte e a destilação, a gente fica com a impressão que é muito fácil fazer whisky.

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O segredo na verdade está naquele córrego de águas cristalinas que passa perto da destilaria.
É essa água pura, de montanha, que dá a pureza a essa bebida tão associada a este pequeno país de cultura tão profunda e peculiar.
A Escócia tem uma relação histórica de confrontos e guerras com a Inglaterra, país que a dominou ao longo de sua história mas que foi incapaz ao longo de muitos séculos, de apagar sua enorme identidade cultural, sua combatividade e suas tradições.
Contive-me na degustação do whisky pois ainda tínhamos duas centenas de quilômetros pela frente até a Ilha de Skye, nas chamadas Ilhas Hébridas Interiores. Um lugar magnífico, uma ilha ligada ao continente por uma ponte construída nos anos 60 e que reflete na sua paisagem agressiva e brutal, o mais íntimo do espírito da Escócia. Aqui nesta ilha se fabrica o whisky Talisker, provavelmente o melhor de todo o país.

... Nem falei no assunto para não arranjar encrenca com a parceira.

Depois de encontrar um lindo B&B pertencente a um simpático casal que nos convidou para um passeio em Portree, um pequeno e típico vilarejo com seu porto e casinhas coloridas, belo exemplo de arquitetura e paisagem.

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Adivinha onde nos levou o casal?
Provar o whisky Talisker, um patrimônio da Ilha de Skye.
Aliás, um de meus preferidos. Recomendo a todo motociclista amante de whisky.
Os whiskies das Ilhas Hébridas, como o Lagavulin e o Talisker, tem em seu processo a secagem da cevada com turfa que é a terra com alto componente de carvão e que é cortada em cubos e utilizada tradicionalmente como aquecimento das casas no inverno longo e rigoroso das Ilhas Hébridas. Essa turfa dá um gosto de defumado à cevada e que acaba por passar esse gosto ao malte e, por conseguinte, ao whisky. (Pitted, em inglês.)
Como vocês podem ver, motociclismo também é cultura.
Deixamos Portree por estradinhas de uma só mão. Quando algum veículo vem em sentido contrário, há áreas de cruzamento e o veículo que chega primeiro a essa área deve se deter para que o outro passe.

Esse sistema exige muita disciplina e atenção. Além do mais, você passa sempre pelo lado esquerdo do veículo, pois estamos em mão inglesa. Tenha isso sempre em mente pois, na moto, ao contrário do carro, você não muda a posição da direção.

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A Ilha de Skye, a maior da Ilhas Hébridas Interiores, por sua origem geológica turbulenta, tem uma das paisagens mais diversas e acentuadas de todo o Reino Unido. O verde do sul da ilha, se confunde com um planalto vulcânico à medida que você se desloca em direção ao norte da ilha., Percorrer essas paisagens ocupadas apenas por ovelhas e gado, com suas casas em ruínas, abandonadas durante as “limpezas” feitas pelos ingleses no século 18, dão ao motociclista a verdadeira dimensão de nossa paixão por este tipo de viagem.
Raramente vamos ultrapassar ou mesmo cruzar um carro. Estamos sós diante da imensidão da natureza. E estamos sempre na Europa.
Não se trata de Patagônia, do Atacama, do Karakoum ou das Planíces da África central. Este país selvagem e aberto, fica aqui mesmo neste continente.
Chegamos a Uig, no norte da ilha onde vamos tomar o ferry para a Ilha de Lewis, nas Hébridas Exteriores, grupo de ilhas localizado no noroeste da Escócia e um dos lugares mais duros para se viver um inverno.

As temperaturas chegam a 20 graus negativos, com ventos de 80km/h, sem neve, apenas frio. Muito frio.
A ilha de Harris teria sido o berço da colonização da Escócia por Vikings e, aqui, vamos encontrar belos exemplos de arquitetura tradicional Escocesa e também resquícios vikings de mais de 3.000 anos.
A Ilha de Harris,a segunda das ter ilhas que visitamos , é praticamente plana e o mar está presente em todas as paisagens. As estradinhas, apenas estendidas sobre a suave ondulação do terreno dão à moto uma dimensão de quase planar.

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Gostoso rodar entre 80 e 100 km/h com a brisa marinha entrando pelo capacete. Meu Ipod me passa a melodia de Pink Floyd e o momento é realmente sublime.
De Harris, em um pequeno ferry, em um dia de muito vento e chuva, onde tivemos que amarrar a moto para que ela não corresse o risco de cair, cruzamos um estreito onde as ondas eram de, pelo menos um a dois metros de altura.
Ficamos, Graça e eu, junto à moto enfrentando a intempérie.
O pequeno transporte de carros e caminhões não dispunha de cabine fechada.
O pessoal nos automóveis ficava em seu veículo e nós, ao lado da moto curtindo a “brisa” marinha. É nessas horas que eu admiro minha parceira.
Em Lewis, a ilha seguinte, terra onde se faz o melhor “tweed “de todo o Reino Unido (e eu aproveitei para comprar um casaco que teve de ser acomodado na bagagem), encontramos uma paisagem .


As montanhas de um verde profundo e formações rochosas calcárias davam um aspecto de ilha-do-fim-do-mundo, o que não está muito longe da realidade.

Fomos, tranqüilamente, entre vento e chuva, procurar hospedagem em Stornoway, a maior cidade da Ilha que, mesmo assim, não passa de 12.000 habitantes.
Encontramos lugar em um pequeno hotel quentinho e confortável que trouxe calor aos nossos corpos batidos pelo frio e umidade.

Uma boa hora dentro de uma imensa banheira trouxe de volta o ânimo e a motivação para sairmos para um passeio a pé.
Chovia ainda mas nosso moral tinha subido em vários pontos na escala do bom humor.
Fomos a um belo pub, tomamos um par de Guinness, aquela excelente cerveja preta irlandesa e já nos sentíamos quase como semi-proprietários da ilha.

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Um jantarzinho em um pequeno restaurante italiano fez o coroamento de uma extraordinária jornada através dessas três ilhas absolutamente inacreditáveis.
E isso, graças à moto, reconhecemos eu um de nossos brindes.
No dia seguinte, tomamos o barco para Ullapool, bela cidade de construções brancas encravada em um belo fiorde rodeado de montanhas na costa noroeste da Escócia ali, você ainda vê os locais usando kilts em vez de calças no dia-a-dia.
Ali, chegamos à conclusão que a Escócia é um país extraordinário não somente por sua paisagem, sua cultura ou sua gente.
Um dos aspectos mais curiosos da Escócia é sua capacidade inventiva.
Entre as grandes invenções escocesas, obviamente além do whisky, estão a máquina a vapor, o pneumático, o golfe, a fotografia a cores, a penicilina, o telefone e a primeira televisão, além de outras não menos importantes como, a garrafa térmica e o anti-séptico.


Realmente, quando você vive em um país onde a natureza pode ser extremamente imprevisível, precisa ser no mínimo criativo.
Ficamos em um lindo B&B que tínhamos reservado previamente. No norte da Escócia convém reservar a hospedagem antecipadamente para evitar surpresas, pois na primavera e verão há uma grande afluência de turistas.
Curtimos o fim de tarde em Ullapool passeando despreocupadamente ao longo da pequena praia, sentido o contato do sol de fim de tarde e aproveitando para conhecer alguns “pubs”. Terminamos a noite em um restaurante onde se serviam as especialidades do lugar. Convenhamos que a culinária Escocesa não é a sétima maravilha do universo.
Carregamos a moto e saímos cedo rumo ao norte por uma belíssima estrada que seguia os dramáticos contornos da costa norte deste belo país.
Poucas vezes vimos uma paisagem tão bonita e tão preservada.


A grande preocupação eram as centenas de ovelhas que ignorando o tamanho de nossa moto, insistiam em atravessar a estradinha como se esta lhes pertencesse.

Com uma brisa suave, mas temperaturas ainda sem passar dos 10 graus, fomos curtindo este dia de praias, baías, enseadas, pequenos portos de pesca e gente muito simpática que nos acenava com um largo sorriso nos lábios.
Nosso próximo destino era Thurso, uma cidade cinza como o clima, sem grandes atrativos ou gente nas ruas.
Era Domingo, tudo fechado, sem lojas para visitar, sem um pub para deixar a poeira da estrada, acabamos por jantar no próprio hotel e fomos dormir cedo.
Grande oportunidade para ler, tomar notas e descansar pois já acumulávamos quase duas semanas e nossa viagem vinha sendo realmente intensa de sensações e emoções. Sobretudo nas duas vezes que me enganei na mão da estrada... Ufa!
Amanheceu sem chuva, um sol tímido nos dava a permissão de ir visitar John O’Groats, o ponto mais setentrional de todas as ilhas Britânicas.

Para os Escoceses, o fim da linha.


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Lugar sem graça, com jeito de imitação do North Cape, ficamos o tempo suficiente para comprar um adesivo para colocar na valise da moto e marcar o quadrinho. Dali, por uma estrada bem mais movimentada e sem as belezas da costa oeste, iniciaríamos nossa viagem de volta à França, passando por Inverness, a capital das Highlands, Perth e novamente Edimburgo.

A partir daquele momento, a viagem sem compromisso ou agenda se encerrava.
Tínhamos somente três dias para chegar em casa e retomar nossa vida de gente comum.
Os últimos 1.500 km, através de auto-estradas da Inglaterra, foram abaixo de muita chuva, como se o mau tempo da Escócia fizesse questão de nos acompanhar como aquela nuvenzinha encima do Cascão, amigo da Mônica.



De qualquer forma, se quisermos sol, o melhor é não ir à Escócia, ou à Escandinávia. Para ter sol no verão Europeu, podemos sempre ir à Grécia, Espanha ou mesmo, à Itália, não é mesmo?

 
 
 
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Comentários (13)

2/2/2017 20:09:26
1OPR5CODWG3M
Nosaltres sí que feim servir la patata per a faeicmrnts, no de manera habitual, però a vegades sí. I ens agrada el resultat. La teva proposta ens encanta.
 
28/6/2016 16:14:56
47V8YVFXK
Finding this post has anreeswd my prayers
 
2/1/2011 16:04:08
SERGIO J. DA SILVA RIO DO SUL, S.C SERGINHO
Lendo atentamente peguei uma carona com voce e sua esposa.
Já estive em Dundee mas, nem se compara ao que voces viram e viveram.

Parabéns e outras tantas em 2011 !
 
25/12/2010 12:58:58
JORGE CANCELLA
Caro Ricardo e esposa,
Que viagem incrível, roteiro diferenciado e narrativa típica de quem tem a emoção do momento vivido.
Parabéns e obrigado por repartir conosco essa "aventura".
PS. gostei muito do trecho que fala da "melodia" do Pink Floyd.
Nem presciso desejar, porque acho que vocês tiveram um feliz natal, com certeza!
Abração,
Jorge Cancella
 
24/12/2010 09:07:21
MAURICIO
O casal está muito elegante! Very much indeed....!!!!!
Belas fotos.Com certeza deve ter sido uma viagem de tirar o fôlego.
A propósito....FELIZ NATAL!
 
24/12/2010 00:20:18
RAMIRO
Que bien te felicito un fuerte abrazo, feliz natal
 
23/12/2010 22:21:33
CELINA PEDROSA
escolha maravilhosa, relato nota 10.. especialmente quando menciona os aromas que se curte ao andar de moto. Certamente é uma das melhores lembranças do meu tempo de motoqueira. Obrigada, Lugris, por nos trazer estas imagens maravilhosas.
 
23/12/2010 21:21:17
HERBERT MASCARENHAS
Ricardo,
Obrigado por linhas que me levaram de volta à Europa.
Parabéns! Estarei sempre por aqui buscando alimento para a imaginação.
Grande abraço.
 
23/12/2010 16:22:22
DONATO MONTEIRO
Ricardo e Graça.
Viagem deliciosa, o velho mundo realmente tem encantos surpreendentes. Quanto ao roteiro, sem comentários, nota 10.
Destaque tb a caprichada narrativa, levando-nos juntos ao passeio e cheio de valiosas dicas.
Grande abraço.
 
23/12/2010 15:21:31
OTAVIO ARAUJO GUGU
Friends,
Show de viagem, magníficas paisagens, um texto gostoso de ler, tranquilo, didático, perfeito. Perto de nossas viagens pela America do Sul, chega a dar água na boca, um sonho. Para realizá-la imagino tenha havido muito planejamento e um custo relativamente alto, mas deve ter valido a pena. Espero que tenham aproveitado, pela minuciosa descrição, cheia de humor, curtiram todos os momentos.
Parabéns pela realização. Fraterno abraço a todos.
Otavio Araujo – Gugu Taubaté/SP
 
23/12/2010 15:20:55
ALEXANDRE PALHARES
Sensacional!
 
23/12/2010 14:38:36
RONALDO GOMES DA COSTA
Ricardo muito legal.
Com as indumentária típica como esta, quero ver é subir na GS! rs
E se for regado a uísque! PQP...Nem pensar...

Cara, um Natal cheio de paz e continue nos mostrando as belezas do velho continente.

Abraços,

Ronaldo Costa (São Paulo)
 
23/12/2010 14:32:39
DEBORAH FREIRE
Ricardo e esposa,

Magnífico roteiro.

No próximo verão, eu e meu marido, Antenor Freire, estaremos fazendo um tour de moto pela Escócia.

Abraços,

Deborah
 

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