GRECIA EM 2005 - PARTE IV
A Península do PeloponesoDe Epidauros, cruzamos o primeiro dos quatro dedos do Peloponeso em direção oeste através de belas montanhas em uma estrada deliciosa onde a velocidade era tão baixa que nos permitia curtir o detalhe das paisagens.
A temperatura baixara um pouco com a caída da tarde. Nosso destino seria Nafplio para aquela noite.
Durante vários séculos dominada por Veneza, a cidade-porto de Nafplio, com suas três fortalezas a proteger e dominar a cidade, foi a primeira capital da Grécia após sua independência.
Local privilegiado para os fins de semana dos Atenienses, chegávamos justamente em um sábado à noite. Tentamos um par de hotéis no centro histórico da simpática cidadezinha, porém não tivemos muita sorte. Os únicos apartamentos livres estavam fora de nosso orçamento.
Preferimos ficar na parte moderna da cidade, a uns 1.000 metros de onde se encontravam os belos restaurantes, bares, cafés e tudo o que compõe a vida noturna deste pais mediterrâneo.
Achamos um hotel simpático, preço razoável, porém sem estacionamento para as motos. O porteiro disse que ficaria toda a noite ali na recepção e que poderia cuidar de nossas motos, por módicos 10 Euros por moto.
Acerto feito, Graça e eu decidimos terminar a tarde em uma das praias do lugar. A apenas 400 metros de nosso hotel encontrava-se uma praia artificial (quer dizer, de cimento) onde alugamos duas confortáveis cadeiras para curtir o sol deitando-se sobre um par perfeitamente azul.
Proposta pelo responsável do lugar, duas cervejas completaram os minutos de paz e satisfação que de estar naquele belo canto de mundo.
Não sei como, Charlie nos encontrou uma hora depois. Tinha feito uma pequena soneca e já estava pronto para encarar um jantar o mais típico possível, pois segundo ele, era para isso que tinha vindo à Grécia.
Relutantemente deixamos nossas confortáveis cadeiras e atravessamos o morro que nos separava do centro da cidade, chegando ao pequeno centro histórico onde, sem problemas encontramos uma adorável cantina em um pequeno beco sem-saída onde, regado a vinho branco de jarra, afogamos nossa alegria e contentamento.
Um pequeno porto dominado por duas fortalezas, Nafplio é, sem dúvida, uma das cidades mais lindas do Peloponeso. Cosmopolita com suas dezenas de restaurantes, tem o seu lugar na história moderna grega por ter sido a primeira capital após a independência do país. Seu primeiro presidente, Kapodístrias, viveu e foi assassinado neste lugar.
Aproveitando o ambiente descontraído e animado de nossa cidade-de-passagem, fizemos uma longa caminhada, recheada de sorvete, e uma lua daquelas de poeta.
Caminhamos os três em silencio, a conversa não estava no programaSeguramente, cada um de nós viajava em seus próprios pensamentos curtindo a singularidade e a mágica daquela noite repleta de harmonia e tranqüilidade.
No hotel, o restante da noite não foi tão tranqüilo. Alguns hóspedes russos resolveram fazer festa pelos corredores durante toda noite. O sono foi difícil.
Um tanto quanto mal dormidos, engolimos nosso trivial café-da-manhã e pegamos a estrada em direção ao norte.
Micenas, a cidade de AgamenonNossos planos eram de visitar as impressionantes ruínas de Micenas a cidade fortaleza de Agamenón. A civilização Micenas notabilizou-se pelo avanço na arquitetura militar. As ruínas dessa cidade-fortaleza, construída 1500 anos antes de Cristo, guardavam tesouros incalculáveis, como a máscara de ouro encontrada pelo arqueólogo Schiliemann que dedicou a sua vida a estas ruínas.
Construída sobre uma colina dominando toda a paisagem a seu redor, com apenas uma via de acesso que leva à Porta dos Leões, a primeira impressão desse lugar são suas imensas pedras perfeitamente assentadas onde não é possível passar nem uma folha de papel entre um bloco e outro.
Graça e eu não pudemos deixar de experimentar uma dose de emoção ao passar por essa porta. Charlie, como bom americano, pouco interessado em antiguidades preferiu ficar tranquilamente esperando por nós à sombra de uns pinheiros na base da colina, com o pretexto de cuidar das motos.
As 9 h da manhã, o calor já era intenso. Não insistimos para que Charlie nos acompanhasse, assim, podíamos deixar nossos casacos com ele.
Nossa apreciação das ruínas de Micenas, uma das mais visitadas de toda a Grécia, foi perturbada pela chegada de vários ônibus de turistas japoneses e alemães.
Já tínhamos visto quase tudo, fazendo em conjunto, um esforço de imaginação para tentar entender a forma de vida daquele povo quando decidimos que o lugar estava ficando densamente povoado e barulhento.
Descemos a colina e retomamos nossa viagem, desta vez, rumo ao sul no segundo dos quatro dedos da Península do Peloponeso. Quando se olha o mapa do Peloponeso, distintamente são percebidas quatro penínsulas como dedos de uma mão. A alguns km de Micenas, detivemo-nos para apreciar aquela que é considerada a ponte mais antiga da Grécia e quem sabe, do mundo.
Também construída por esta prodigiosa e belicosa civilização, a ponte se mantém sólida e tem visto passar gente e veículos sobre ela há mais de 3500 anos.
Nosso destino nesse dia seria a cidade-ilha de Monemvasia, conhecida justificadamente como a Gibraltar da Grécia, esta cidade, cujo nome significa “somente uma entrada” vai nos fascinar e será o ponto de despedida para nosso bom amigo Charlie que tomará no dia seguinte o rumo norte até Patras e, dali, o ferry de volta à Itália.
De Micenas tomamos uma estrada secundária que costeia o belíssimo mar Egeu. Seus tons de azul e verde enchem nossos olhos de cores. Do lado da montanha pois neste país o mar não se divorcia do monte, nosso olfato é recompensado por perfumes que variam entre o pinho, figos, flores e mel e mar.
Acaba por ser um pequeno jogo entre Graça e eu para ver quem identifica primeiro um novo perfume no ar.
Por uma estrada deliciosamente ondulante, vamos mantendo um ritmo razoável de velocidade e a música fornecida pelo Ipod em nossos capacetes serve para completar o contentamento de nossos sentidos.
Abraços,
Ricardo Lugris