Segunda-feira a Quinta-feira: Belém
28 a 31.03.2011
Esses quatro dias foram um tanto confusos. Gastamos a segunda-feira inteira nos informando sobre o transporte da moto para Manaus e decidindo como nós nos deslocaríamos para o mesmo destino. O objetivo era aproveitar parte do tempo de viagem da moto no navio para conhecer outras coisas e ao mesmo tempo vivenciar a viagem pelo rio Amazonas.
É curioso que as informações que se encontra na Internet sobre esses navios são todas de segunda mão, relatos e forums de viajantes. Nenhuma das empresas que faz esse serviço tem uma página onde se possa obter informação direta na fonte.
Contamos com importantíssima ajuda do Alex Reis, motociclista de Belém que o Paulo de Gurupi conhecia: O Alex ajudou muita gente com esse transporte, e nos apontou uma figura importante para fazer os trâmites: falamos diretamente com o genro do proprietário de alguns dos navios, o que diminui a desconfiança e também os preços: ficamos com a impressão que ele reduziu a comissão que eles pagam aos demais agenciadores (não dá para dar dez passos nas docas sem ser abordado por alguns deles).
Como a Internet do hotel era bem precária, pesquisar demais detalhes como passagens aéreas e hotéis se tornou bem demorado, tomando totalmente o dia - e mesmo assim não tínhamos ainda um quadro claro do plano de viagem. Aproveitamos também para dar um banho na moto, que já estava bem marron depois de todas as chuvas.
Até o fim do dia só havíamos falado com o Alex por telefone, e à noite fomos conhecê-lo pessoalmente. Aí ficamos conhecendo o 'verdadeiro Alex': ele (fundador), juntamente com um grupo de motociclistas, fazem um lindo trabalho de assistência a comunidades carentes do Pará. O objetivo é levar assistência médica básica, palestras sobre temas ligados à qualidade de vida e saúde, e também mantimentos e medicamentos a lugares tão isolados que somente de moto é possível atingí-los com relativa facilidade. Eles são acompanhados apenas por picapes 4x4 para transportar as mercadorias a serem distribuídas.
Vale a pena acompanhar esse trabalho, que merecia mais divulgação e apoio. Quem quiser saber mais entre em
www.expedicionarios.webcindario.com. Conversamos bastante, e ainda conseguimos, graças à sua generosidade, resolver pelo menos durante nossa estadia em Belém, a questão da câmera: ele nos emprestou a sua!
Na terça-feira a manhã foi usada para uma 'mudança': já há bom tempo estávamos em contato, via email, com uma pessoa chamada David. Fizemos contato com ele através de uma comunidade chamada Couch Surfing (
www.couchsurfing.com), mas esse contato era mais para obter ajuda com a questão do transporte da moto e outros detalhes. Ao ligar para ele ficamos sabendo que ele estava esperando por nós para dormir em sua casa - esse é o objetivo primário da comunidade Couch Surfing, oferecer abrigo a viajantes pertencentes a ela.
Claro que aceitamos o convite, e fomos para lá. Encontramos uma pessoa extremamente desprendida, que imediatamente nos forneceu as chaves de sua casa e nos deixou inteiramente à vontade para usá-la como quiséssemos. À tarde finalmente pudemos passear um pouco, começando por conhecer pessoalmente o Udivan, o tal 'genro do dono'. Acertamos a questão da moto com ele e obtivemos mais informações sobre o transporte para nós, para ajudar a tomar a decisão final.
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O resto foi passeio, almoçando na Estação da Docas, um complexo de restaurantes instalado num armazém das Docas restaurado. Lugar gostoso, com boa comida, mas a preços relativamente 'temperados'. De lá seguimos para o famoso Ver o Peso. Não é fácil descrever as impressões sobre essa área de Belém. Certamente pitoresco e muito tradicional (comemorou 384 anos no dia 27/03 com uma grande festa). Mas, ao mesmo tempo, feio e sujo, sendo esse lado sublinhado pelos urubús que infestam a área de atracação dos barcos de pesca. Tudo bem que tem que ser visitado por quem vai a Belém, mas não conseguimos compartilhar o entusiasmo de outros viajantes.
No fim da tarde voltamos para a casa do David sob a tradicional chuva de Belém, que pelo menos atualmente e nessa época do ano caiu fielmente todos as tardes, mas com horários, intensidade e duração bem variados. Roupa de chuva, temperaturas relativamente altas e o congestionamento de fim de tarde na cidade tornaram esse trajeto muito chato. Aliás, falando de temperaturas, ficamos um tanto surpresos com elas aqui em Belém: em nenhum momento precisamos de ar condicionado para dormir, um ventilador foi mais que suficiente, e às vezes ainda tivemos que diminuir sua velocidade. Não era bem o que esperávamos.
Agora, durante o dia o bicho pega forte, e aí o ar condicionado é muito bem vindo mas ainda com uma ressalva: o pessoal aqui deixa o ar muito frio, provocando choques térmicos bem desagradáveis entre o sol escaladante e temperaturas mais próximas de 15 que de 20 graus.
À noite fomos a Icoarací com o David, um casal de viajantes pelo Couch Surfing e seu anfitrião. Icoarací é uma região de praia coalhada de restaurantes e quiosques que devem lotar no fim de semana, mas na terça-feira estava super tranquila. O único problema é aguentar os vendedores de tudo que é bugiganga, cantores, mágicos e outros 'artistas' que desfilam ininterruptamente pela mesa da gente.
Durante esse passeio duas coisas se esclareceram: o David não é 'um David qualquer'. Ele é o David Cruz que passou alguns anos pedalando pelo mundo. Uma grande pessoa, com muitas histórias para contar e muito generoso e desprendido. A melhor forma de conhecer algo sobre ele é ler o livro que escreveu relatando suas viagens: Atravessando Fronteiras.
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A outra definição foi sobre nosso plano de viagem: mudamos pela última vez e decidimos passar mais um dia passeando em Belém e na quinta-feira embarcar a moto no navio e seguir para Marajó. Essa questão do navio é interessante: quando ele chega de Manaus, ele fica alguns dias (pelo menos três) ancorado antes de iniciar a viagem de volta. Durante esse tempo ele é limpo e começa a ser carregado, e você pode deixar a moto lá praticamente quando quiser. No nosso caso ela foi para o navio na quinta-feira de manhã, e o navio partiria na sexta-feira à noite. E quando fomos embarcar a moto já havia gente com a rede montada e dormindo no navio, esperando pela partida.
Nos preparativos para o embarque da moto e nossa viagem para Marajó descobrimos algo que já temíamos mas cuja magnitude só ficou clara na hora da verdade: livrar-se da moto não é difícil, mas a roupa de viagem é outra conversa: mesmo tirando a bagagem das duas bolsas das malas laterais da moto e enfiando botas, casacos e outras coisas lá dentro, ainda tivemos que arrumar duas caixas de papelão para o que sobrou. Além do problema da própria roupa, há outros ítens que têm que ser acondicionados ou transportados na mão por questão de segurança, como a mala de tanque. Essa mala é grande, desajeitada (pelo formato irregular) e relativamente pesada. E o pior é que nosso plano inclui um trecho aéreo, e portanto temos que planejar levando em conta o que dá para levar na mão e o número de volumes que podemos despachar.