Sábado: Santa Elena de Uarién - Puerto Ordaz
16.04.2011
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Encontrei meu xará |
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Como se arruma a bagagem numa moto |
Conseguimos dormir relativamente bem, só que alguns hóspedes resolveram curtir a piscina às 6h da manhã, e ela ficava ao lado do nosso quarto.
Levantamos e descobrimos uma característica de muitos (Quase todos? Não sabemos ainda.) hotéis aqui: não oferecem café da manhã. Lógico que se estabeleceu um negócio para suprir essa demanda, e aí veio a segunda surpresa: o desjejum típico daqui é baseado em frituras (empanadas, pastéis e outros salgados) de frango, queijo, presunto...
Bem, achamos um boteco (daquele tipo garagem de casa transformada em boteco, com o agravante da proprietária dormir nos fundos da garagem) onde conseguimos um suco, dois pastéis de queijo e café com leite.
Voltamos para o hotel, pegamos a moto e antes de sair ainda trocamos alguns dólares por bolívares: é só ir até as Quatro Esquinas (um cruzamento na centro da cidade de Santa Elena de Uiarén) onde se concentram umas duas dezenas de cambistas. Troca-se na rua, sem nenhum pudor, e de forma bastante segura. Também fomos informados que o único posto da cidade onde um estrangeiro pode abastecer é o que fica lá na fronteira, mas que a uns 80 km para o norte haveria um posto de gasolina: mais razoável que voltar novamente os 20 quilômetros até a fronteira e retornar.
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Restaurante brasileiro em Santa Elena |
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Mesa de desjejum na calçada |
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La Gran Sabana... |
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difícil capturar... |
Là fomos nós... e o posto de gasolina não existia! Quando paramos no primeiro posto de controle, perguntamos pelo posto de gasolina e ficamos sabendo que teríamos que voltar a Santa Elena para comprar gasolina lá. Ah, mas primeiro o posto de controle! O que é isso? Ao longo das estradas venezuelanas há postos de controle da Guardia Nacional, onde muita gente é parada, mas condutores de veículos estrangeiros têm que tomar um cuidado adicional: parar e pedir que o militar carimbe aquele documento que recebemos na alfândega. Não temos certeza das reais consequências da falta de um desses carimbos (no nosso papelucho já falta um) mas por segurança procuramos coletar todos os carimbos.
Fizemos isso e num acesso de gentileza o militar encarregado deu um jeito de arrumar alguns litros de gasolina (quase certamente tirada de um veículo governamental) para quebrar nosso galho. Não quis aceitar nada pela gasolina, mas isso claramente era jogo de cena (esse pessoal é conhecido como recebedores de 'regalos'). Oferecemos BsF 20 a título de compensação, imediatamente aceitos. Com esse valor cada litro custou aproximadamente R$ 0,80, o que pode parecer barato, mas logo veremos que é simplesmente extorsivo. Mas resolveu nosso problema!
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...toda a beleza... |
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... nas fotos |
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E os indigenas já usam alvenaria |
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E mais um pouco da Gran Sabana |
Tocamos em frente, e gozamos duas a três horas das mais bonitas até hoje em termos de paisagem. A Gran Sabana é muito, muito bonita. É uma sequência de leves colinas e montes cobertos basicamente de relva, palmeiras e alguns bosques entremeados com montanhas um pouco mais altas. Como a estrada não sobe nenhuma das montanhas, ela vai serpenteando pela savana, oferecendo vistas lindas.
Também há algumas atrações turísticas (principalmente cachoeiras e rios próprios para banho) ao longo da estrada. Rapidos de Kamoiran é um desses lugares, onde há hotel, camping e restaurante à beira do rio Kamoiran, que formam belas piscinas. Almoçamos lá e tivemos o verdadeiro choque com a gasolina: abastecemos a moto com pouco mais de 28 litros e pagamos BsF 2,80. Parece pouco? É!!!! Esse valor corresponde a aproximadamente R$ 0,40. Isso mesmo, quarenta centavos de real por quase trinta litros de gasolina puríssima, de excelente octanagem. Não foi fácil acreditar, mas é verdade.
Além da economia no preço, a moto está se deliciando com essa gasolina: o consumo caiu mais que 10%, tornando essa parte do orçamento ainda mais incrível.
Seguimos viagem, agora já um pouco preocupados com o relógio: ainda faltava bastante para chegar a Upata, onde queríamos pernoitar, e a viagem não rende graças aos benditos postos de controle - sete ao todo até Upata. Além disso, ainda havia a Piedra de la Virgen para dar uma parada - vocês podem olhar a foto dessa pedra no álbum de fotos e procurar a imagem da Virgem que dizem haver nela - nós não vimos nada! A serra onde fica essa pedra (bem íngreme, com curvas fechadas e longas, pois não tem túneis nem pontes) é também uma grande mudança, e a passagem da estrada por diversas cidades baixa bastante a velocidade média. Duas dessas cidades merecem menção: Quilômetro 88 e Las Claritas: são cidades de garimpeiros, e são a versão século XXI das cidades do velho oeste americano. Dá medo passar por ali!
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E dá-lhe mais Gran Sabana |
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Uma das atrações |
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Salto Kama |
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Bonita mensagem que merece registro |
Todo esse percurso, apesar da lentidão, é fantástico: nunca andamos num trecho que tenha tanta variação de relevo e vegetação em pouco mais de 200 quilômetros. É realmente uma região para se visitar.
Bem, chegamos à última cidade antes de Upata às 17h30, e fomos informados que levaríamos 90 minutos até lá. Aliás, aqui pergunta-se a que distância está uma lugar e a resposta é "a tantas horas de viagem". Faz bastante sentido, o único problema é que cada um informa um tempo diferente, e a gente acaba sem a menor idéia do tempo real.
Tentamos achar um hotel e constatamos o resultado do que vimos durante todo o dia: uma verdadeira caravana de Hilux, Cherokees e outros SUVs e picapes (se nos baseássemos no que vimos nessa estrada pensaríamos que 90% da frota venezuelana é composta desse tipo de veículo) indo para a Gran Sabana: é um dos destinos favoritos dos venezuelanos para férias. Férias? É, pode-se falar em férias: este ano, por coincidência, o dia 19/04, um feriado nacional, caiu na terça-feira, e o fim de semana da Semana Santa começa na quinta-feira. Resultado: a segunda e a quarta-feira foram 'enforcadas' e a Semana Santa virou realmente uma semana.
Então, já no sábado anterior à Semana Santa propriamente dita, o pessoal estava descendo em massa para a Gran Sabana. E, claro, que não conseguia chegar ao destino a tempo parava num hotel no meio do caminho. Não achamos nada que prestasse e decidimos seguir para Upata. Pouco mais de setenta quilômetros de pista simples, sinuosa, com trânsito forte e, claro, totalmente desconhecida. E os faróis, só percebemos depois, imundos! Que maravilha!
E o grande medo: a estrada é boa, mas os poucos buracos que tem são simplesmente mortais: pelo menos 50 cm. de boca e pelo menos 15 cm. de profundidade. Cair num deles seria chão na certa, ainda mais na baixa velocidade provocada pelas outras condições. Felizmente não apareceu nenhum nesse trecho.
Estávamos realmente preocupados, e a viagem teria sido o grande tormento até hoje, provavelmente batendo o navio, se não fossem nossos anjos da guarda: três famílias de Boa Vista que já havíamos encontrado na aduana e depois na parada para almoço, alcançaram a gente e se posicionaram como escolta: um carro à frente e dois atrás. Foi nossa salvação: o carro nos guiava, e permitia uma tocada um pouco mais rápida.
Chegados a Upata, reprise da cidade anterior: todos os hotéis lotados. E imaginem essa procura de hotéis! Felizmente um dos casais dos carros conhecia a cidade e foi pingando pelos hotéis. Nós teríamos nos perdido irrecuperavelmente nessa busca. Depois do terceiro hotel a decisão: seguir para Puerto Ordaz, mais setenta quilômetros, mas agora de auto-estrada, em pista dupla.
Chegados a Puerto Ordaz, já eram umas 21h, começou a baixar o desespero, e o guia do grupo decidiu parar num motel. Confabulações, visita dos quartos, discussão de preços, já estava quase certo que ficaríamos lá quando uma das famílias decidiu refutar por causa das crianças. Bem, vamos ficar todos juntos, então toca a procurar hotel. O gerente do motel, depois de consultar sabe-se lá quem, nos levou a um hotel que... estava lotado.
Mais confabulação e foi decidido voltar para o motel. Só que para isso foi necessário contratar um taxi: o gerente do motel nos guiara até o hotel, mas agora estava indo para casa, e não saberíamos retornar.
Ah, mas antes disso, no caminho do motel para o tal hotel, o grupo se separou. Foi a salvação para nós e para o carro que ficou conosco: o único lugar onde fazia sentido parar para esperar pelo outros era em frente a uma padaria, onde conseguimos comer um salgadinho e um doce a título de jantar enquanto esperávamos.
Chegamos de volta ao motel lá pelas 23:00 horas, e o esgotamento era total! Foi tomar banho e dormir!