Sábado/Domingo: Blue Ridge Parkway
01-02.10.2011
A decisão de atravessar a Carolina do Norte foi única e exclusivamente para motocar nessa estrada chamada Blue Ridge Parkway. É uma estrada de mais de 650 km de extensão, que corre desde o sul da Carolina do Norte até Virginia, ao longo da crista dessa cadeia de montanhas chamada Blue Ridge, parte das montanhas Apalaches.
O dia começou com um choque que havia sido anunciado no dia anterior mas cuja dimensão não imaginávamos: uma onda fria chegou no fim-se-semana. Ontem já usáramos agasalho para sair para jantar e hoje ao sair do hotel levamos uma bela pancada: temperatura de 15ºC. Adicionando o efeito do vento (íamos pegar auto-estrada), não estávamos vestidos adequadamente: pusemos balaclava, agasalho, luvas de baixo e vestimos nossas roupas de chuva por cima. Ótima ideia pois a temperatura já tinha caído para 11ºC.
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Cachorro quente no (frio) centro de visitantes |
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Um dos muitos túneis no trecho sul |
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Mais vistas da estrada |
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E as cores do outono começam a explodir |
Como sabíamos que o percurso na Blue Ridge seria lento (máxima de 45 m/h, muitas curvas e muitas paradas para apreciar vistas), optamos por entrar num ponto dela perto de Ashville e descê-la até o final sul num dia. No dia seguinte voltaríamos por estrada rápida até esse mesmo ponto e seguiríamos para o norte.
Paramos no Centro de Visitantes e pegamos alguns mapas e orientação com o funcionário. Um dos documentos era um roteiro com tempo estimado para os percursos. Não acreditamos que seriam necessárias 3 horas para andar 130 km, que é a distância de Ashville até Cherokee, mas acabou sendo exatamente o tempo que levamos!
A estrada é realmente um coisa de filme: a própria e\strada convida a uma tocada leve e relaxada, a vegetação e a vista são maravilhosas, auxiliadas por uma infinidade de mirantes em locais estratégicos. O funcionário do Centro de Visitantes já havia nos avisado, de forma que estávamos preparados para parar e apreciar uma das grandes atrações dessa época do ano: as cores do outono. Um trecho da estrada já está todo colorido por essa verdadeira explosão de cores que o outono traz por aqui.
O ponto mais alto desse lado (sul) da estrada fica a 1845 m., e a temperatura era de 4ºC, devidamente 'incrementada' pelo ventinho gélido. O sol bem que tentava amenizar a sensação, mas sem muito sucesso...
Chegamos em Cherokee às 17h, só querendo saber de jantar e nos aconchegarmos no quarto do hotel com o aquecedor ligado. Para nossa infelicidade não havia restaurante próximo ao hotel: ainda tivemos que montar novamente na moto para comer. Como foi gostoso voltar para o quarto!
Cherokee fica numa reserva dos índios com esse nome, e como todas as reservas indígenas tem cassinos que são explorados pelos índios - eles têm esse privilégio. Há também apresentações formais de espetáculos indígenas e outras mais 'populares': no caminho para o restaurante vimos dois índios em dois diferentes palcos, um dançando e outro tocando uma espécie de flauta, ambos com vestimentas típicas.
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Ponto culminante |
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Venda de artesanato cherokee |
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Saindo de Cherokee |
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Faltam dois meses, mas Haloween já está por todo lado |
No domingo nos agasalhamos ainda melhor (no sábado estávamos sem as segundas peles) e tocamos para o norte, com temperaturas sempre abaixo de 10ºC. Quando saímos chegamos a pensar que sentiríamos calor com todas as camadas que roupa que havíamos vestido, mas assim que começamos a andar pelas montanhas ficamos felizes por ter esses agasalhos.
Voltamos a curtir a beleza da Blue Ridge Parkway, mas com uma leve sensação de repetição agravada por um mala que andava tão devagar que até os americanos, normalmente inacreditavelmente pacientes no trânsito, ultrapassaram o cara em área de faixa contínua.
Num certo trecho da estrada a temperatura estava abaixo de 3ºC, e víamos o que pensávamos serem folhas caindo das árvores na beira da estrada. Mas o estranho é que sob essas árvores havia uma poça d'água, isso com céu azul! Estávamos intrigados com aquelas pocinhas de água, até que depois de uma curva nos deparamos com a encosta do Mount Mitchell, completamente branca!
Ainda custamos um pouco a entender, mas conforme subíamos o morro - havia um restaurante e precisávamos aquecer as mãos - percebemos que era geada! E uma geada muito pesada, que havia enchido as árvores com tanto gelo que mesmo àquela hora, já depois do meio dia, ainda estava tudo branco. Os pinheiros pareciam árvores de natal enfeitadas.Temos certeza de que aquele gelo ficou ali até chegar a noite!
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Mount Mitchell vestido de branco |
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Árvores de Natal |
O pico do monte fica a 2037 m. de altitude - o restaurante é um pouco mais embaixo - mas não tivemos coragem de ir até lá! Brrrr... só de imaginar dava mais frio. No restaurante lavamos as mãos, ou melhor, deixamos as mãos na água quente por alguns minutos para sentirmos a circulação sanguínea novamente... Tomamos chocolate quente e uma fatia de cheesecake que estava fantástica!!
Mais aquecidos, ou melhor, menos frios continuamos e passamos por Grandfather Mountain, que foi o primeiro local turístico que conhecemos em 1976, quando aqui estivemos. O que mais atrai nessa montanha é uma ponte pensil a 1600 metros de altura, mas nem chegamos perto, pois com essa temperatura e o ventinho que soprava não queríamos nem tentar imaginar como seria andar sobre ela.
Ainda faltavam mais de 220 quilômetros para chegarmos ao nosso destino e já eram 16h.: não dava para continuar na Blue Ridge com sua média de velocidade em torno dos 50 km/h. E na realidade, por mais bonita que seja a estrada, não teríamos tido muito mais paciência: seriam necessárias umas doze horas para percorrê-la de ponta a ponta, e não acreditamos que aguentaríamos tudo isso.
Saímos do parque e fomos por uma estrada que permitia mais velocidade. No início achamos que o GPS estava maluco, pois nos levou por estradas que cortavam cidades e cuja velocidade máxima era muitas vezes a mesma da Blue Ridge mas com semáforos. Mas enfim, chegamos a Roanoke às 20 h., cansados e tiritando de frio! A raiva do frio era tanta que apesar de haver um restaurante ao menos de cem metros do hotel acabamos estourando nosso último saco de pipocas de micro-ondas e encerrando o expediente ali mesmo.