De Batumi a Tiblissi – Geórgia
21 de maio de 2011
Batumi, sempre às margens do Mar Negro, na Geórgia, uma cidade de veraneio para as elites do então “império” da União Soviética, tem em sua arquitetura o ponto alto de sua atratividade e beleza.
Sobretudo os prédios neo-clássicos, de Art Noveau, e uma com forte influencia do estilo francês da época de Hausmann, o urbanizador e responsável pela atual beleza de Paris.
Apesar dessa clássica arquitetura na cidade, um tanto delapidada pelo tempo e pelo descaso comum e corrente nos países oriundos de regimes socialistas, há um certo esforço para restaurar os imponentes prédios do século XIX.
Já o hotel em que ficamos hospedados é toda uma outra históriaSe chama Alik que é o nome de seu proprietário, também dono do Cassino local.
Meu amigo, poucas vezes em minha vida vi um conjunto decorativo tão kitsh como o desse hotel. Bem, de qualquer forma foi muito confortável e o atendimento do pessoal, impecável.
Como meu negócio não é nem arquitetura, nem decoração, vamos continuar falando de minha viagem de moto, certo?
Saímos de Batumi para nossa primeira experiência na Geórgia. O caminho ficou um pouco complicado pois fomos informados que o grupo separatista da Abkhazia, província ao noroeste do País que luta por sua independência, controla a estrada principal que leva à capital, Tiblissi e que, portanto, não deveríamos passar por ali para evitar problemas.
Esse tipo de informação, depois de verificada, não se discute.
Segurança vem em primeiro lugar. Estamos de férias, a última coisa que queremos é procurar encrenca.
Estudamos o mapa e fizemos uma estrada alternativa, de montanha, na companhia de muitos caminhões, automobilistas e muitas, muitas vacas soltas pela estrada.
É impressionante como esse animal, totalmente alheio ao perigo, se da o luxo de passear na saída de uma curva, levando os motoristas (e motociclistas) a manobras bastante arriscadas para evitar o animal.
Ninguém parece se importar. Sempre achei que os dois únicos lugares no mundo onde a vaca é sagrada eram a Índia e a Galicia (esta vai para meu pai.....).
A Geórgia vai se apresentando para nós. Sempre é delicioso percorrer um novo país. Já estive muitas vezes na Turquia, daí um certo sentimento “blazé”.
A Georgia é nova para mim. Um povo curioso, atencioso, e com um ar nostálgico, triste.
São serviçais e amáveis, tem a consciência de pertencer a um pequeno país mas também se nota o orgulho de ser uma nação muito antiga, cheia de tradições e com uma sólida cultura.
Dizem que o vinho surgiu aqui. Há vestígios que indicam que o vinho já era consumido nesta região há 7.000 anos.
Vamos passando vilarejos e pequenas cidades. A atenção precisa ser mais do que redobrada, o pessoal aqui é alucinado no volante de um automóvel. Ultrapassam em curva, passam pela direita, andam pelo acostamento na contra-mão, etc....
As casas são de construção tradicional, com varandas e estrutura em ferro fundido, seguramente remontam ao período em que Staline, um nativo deste país, governou a URSS e deu à Geórgia, obviamente, um status especial ao país.
As casas são lindas (e olha eu falando de arquitetura novamente!!!) mas seguramente um pintor morreria de fome neste país. Decadentes e mal mantidas, elas vão caindo aos pedaços sem que ninguém faça nada para evitar.
De mesma forma, um comprador de ferro-velho ficaria milionário neste país.
Em cada cidade há dezenas de pavilhões e fábricas transformadas em fantasmagóricos edifícios de ferro, cimento e aço, enferrujando diante de todos como testemunhas de um passado glorioso que não existe mais.
A Geórgia passou de país industrializado a um país agrícola no espaço de 30 anos.
Aqui se poderia praticar facilmente a “Arqueologia Industrial” nessa infinidade de velhas industrias abandonadas à ferrugem e à ruína.
Conseguimos chegar à estrada principal que conduz a Tiblissi sob uma intensa chuva que durou uma hora aproximadamente. Há muito óleo na estrada que se torna bastante escorregadia. Minha GS dança a cada curva, a visibilidade fica muito afetada pela quantidade de água e o embaçamento da viseira de meu capacete.
Passamos por uma dupla de russos viajando em uma moto URAL com side-car. De cor abóbora fulgurante, não resistimos e paramos para conversar com os “colegas”.
Dois jovens russos muito simpáticos, falando um bom inglês, disseram estar fazendo uma viagem de 3 mil kms pelo Cáucaso. Chegaram à Turquia pelo mesmo ferry que pretendemos tomar e confirmaram que o mesmo não é muito confiável em termos de horário.
Seguimos nosso caminho com a chuva amainando, e assim, com um pouco mais de sossego.
Chegamos no final da tarde à capital da Geórgia. Tivemos sorte. Um jovem parou o carro enquanto olhávamos o endereço de nosso hotel e perguntou se precisávamos de ajuda.
Disse que era do Moto Clube da Geórgia e que se quiséssemos ele poderia nos levara até o hotel.
Mais uma demonstração de que somente de moto você pode ter esse tipo de manifestação. A moto compensa.
Nosso pequeno hotel é um belo prédio do inicio do século XX transformado em um belo hotel de charme com 20 quartos. Está localizado na parte mais charmosa da cidade com suas colinas, igrejas ortodoxas e castelos medievais.
Amanhã utilizaremos o dia, um domingo, para descansar, fazer nossa lavanderia, passear como simples turistas por esta bela cidade e encontraremos com o grupo de quatro motos que deverá se juntar a nós para fazermos uma boa parte do restante de nossa longa viagem.