de Yalta a Odessa - Ucrânia
30 de maio de 2011
Yalta é realmente uma linda cidade. Localizada em um pequeno espaço de terra, espremida entre mar e montanha, o seu Passeio Marítimo é bem organizado e harmonioso.
É simpático ver uma grande quantidade de edifícios históricos apropriadamente conservados e sobretudo, bem integrados ao contexto moderno da cidade.
É raro ver isso nos países oriundos da Cortina de Ferro onde, de maneira geral, o descaso com a estética é evidente.
Gostei de ver uma bela estátua de Lênin na praça principal da cidade.
Com a derrocada do comunismo, confundiu-se muito, memória histórica com memória ideológica e muito do culto ao regime foi destruído como reação a tantos anos de repressão e penúria.
Hoje, entende-se que personagens como Lênin, Trotsky, Checkov ( O grande herói da defesa russa contra a invasão nazista de 1941 a 1945) e outros, merecem seu lugar nas praças das ex-repúblicas soviéticas pois devem ter seu lugar na memória do povo e, além do mais, os pombos sempre precisam de uma estátua para fazer cocô encima, certo?
Minha viagem neste dia seria tranqüila, sem passagem de fronteira, sem montanhas, sem chuva pois o dia já estava quente às 9 hs da manhã quando peguei a estrada para os 580 kms de distância até Odessa, a bela cidade sempre às margens do Mar Negro. Nome mítico e recorrente nos livros de espionagem, Odessa está ligada ao desaparecimento do ouro das reservas da República Espanhola, em 1938, enviado aqui para protegê-lo das tropas de Franco que ameaçavam entrar em Madrid.
Bom, mas isto é outra história, fica muito longo para contar.
A estrada, um tanto quanto irregular de superfície, porém reta e bem nivelada, permitia viajar confortavelmente a 100, 110 kms/h.
O problema é que logo em seguida à minha partida de Yalta, recebo de um motorista uma piscada de faróis, sinal internacional contra controle policial.
Reduzo a velocidade para os regulamentares 90 km/h e, efetivamente, percebo uma viatura de polícia com um radar de tripé instalado e em funcionamento em minha direção.
Apesar de passar em velocidade legal, tenho sempre a impressão que vou ser parado por estar em uma grande motocicleta e simbolizar o que este pessoal acredita ser um “estrangeiro rico” e presa fácil para um pequeno botim.
No dia anterior, a 20 kms de Yalta, fui parado por dois policiais por excesso de velocidade.
Eu estava a 84 km/h em uma estrada claramente para 90 km/h, segundo as regras locais anunciadas em um painel logo à passagem de fronteira.
Esses painéis sempre estão na entrada de cada país e convém sempre perder um minuto para estudar as velocidades permitidas em cidade, estrada e auto-estrada.
Ficava claro para mim que os dois policiais queriam melhorar sua aposentadoria comigo.
Estava a 20 kms de meu hotel e, depois de viajar por 10 horas, não me sentia muito inclinado a ceder.
Sou horrível de mau humor, mas estes dois diligentes policiais ucranianos ainda não sabem disso.
Quando o “tira” me disse que estava em excesso de velocidade, e mostrou minha foto na máquina, eu protestei veementemente dizendo que esta é uma estrada para 90 km/h.
E, aproveitando a poeira no parabrisa da viatura, desenhei com o dedo os 90 dentro do círculo, como aqueles que escrevem com o dedo em carro sujo: “ME LAVE”.
No fim, vendo que meu argumento não estava funcionando, dei minha Habilitação Internacional a ele e disse que fizesse o “protocol”, que é como se chama “multa” em Russo.
Virei as costas e voltei para minha moto, sem lhe dar mais atenção.
Nesse momento vejo que seu companheiro lhe diz algo apontando para o relógio. Eram 19 hs e obviamente o parceiro queria ir embora.
Ele veio novamente junto a moto e perguntou em algo de inglês, se eu poderia fazer algo por ele.
Eu disse, com o olhar mais puto que posso ter, em voz muito baixa mas carregada de ódio: Faça a multa!
Ele voltou ao carro e veio logo em seguida, praticamente jogando minha Habilitação sobre a sela, sem falar nada.
Entraram na viatura e foram embora, me deixando ali, com um pequeno sorriso de vitória nos lábios.
Na Ucrânia, os policiais fazem questão de caçar estrangeiros para engordar seu fim-de-mês.
Eu abomino qualquer tipo de corrupção, seja ela ativa ou passiva.
Sobretudo, quando é utilizada por pessoas que, levando em consideração o uniforme que vestem, deveriam representar a autoridade, controlar e proteger.
Punir excessos é normal e legítimo. Em caso de falta, multa.
Voltando à estrada para Odessa, contei 17 controles de radar em 580 kms.
Fui parado novamente no controle de número 11 por alegação de que não havia feito um “STOP” completo na entrada de uma estrada principal.
Como não existia placa de STOP, não vejo por que deveria ter parado...
Da mesma forma, disse a ele que multasse e, depois de 5 minutos, ele voltou à moto com minha Habilitação e me mandou embora. Vitória número 2!
O controle de número 16 seguiu-me por uns 15 kms para ver se eu faria algo de errado...
Parei para almoçar e tive que encarar novamente o ‘borsch”. Sopa a 32 graus!!!!
Começo a parecer aquele gringo da piada que por não saber o que comer em um restaurante no Rio,pedia sempre “feijoada”..... rsrs.
Cheguei tranqüilamente a Odessa que é bem maior do que eu pensava e achei, com a ajuda do GPS que agora começa a funcionar normalmente, um belo hotel de charme de 4 estrelas. Eu mereço, sobrevivi à polícia Ucraniana e ainda não tive que pagar multa...