Viagem pelo Mar Negro

De Odessa (Ucrânia) para a Romênia, através de Moldovia

31 de maio de 2011

 
Uma das coisas mais extraordinárias na viagem de moto é a expectativa de cada dia. Por mais que você planeje sua viagem, sempre haverão imprevistos e situações onde você deverá se desenvolver em completa improvisação.

Isso foi exatamente o que me ocorreu neste dia.

Depois de uma excelente noite em Odessa, cidade sofisticada e elegante, com seus imponentes edifícios bem restaurados, com seu teatro de estilo neo-clássico fechando uma alameda de árvores centenárias ao fundo na avenida principal.

Em resumo, uma perspectiva bem ao gosto dos arquitetos e urbanistas do regime comunista.

Em suas belas avenidas, restaurantes e bares dão o tom de um ambiente animado e festivo, apesar de só ser uma segunda-feira.

Fiquei hospedado em um lindo hotel de 4 estrelas. Decidi dar-me esse presente e fui jantar em um Pub Irlandês, onde, sentado nas mesas da calçada, tive a oportunidade de apreciar os locais passando e admirar (respeitosamente) a famosa beleza das mulheres ucranianas.















No início da viagem, meu primo Antonio, que vive em Nova York, desejou-me boa viagem e disse que esperava que eu fosse violado por uma ucraniana....

Isso é pouco provável que ocorra mas, a 100 kms de Odessa, na fronteira, eu quase me ferrei por ter-me enganado de país.

Isso mesmo! Enganei-me de país.

Explico:

Durante a preparação da viagem, e já falei dos cuidados que tive em relação aos aspectos geo-politicos desta região, li algo sobre a TransNistria, uma região ao sul da Moldavia que decidiu se tornar independente através de uma guerra civil em 1992.

Este estado dentro da Moldavia, se recusa falar romeno que é a língua da Moldavia, falam somente russo e, pasmem, são comunistas!

Este pequeno estado, para distração minha, controla toda a faixa leste da fronteira entre a Ucrânia e a Moldavia.

Um pequeno país como Liliput, sem reconhecimento por nenhum estado membro das Nações Unidas e, portanto, sem relações diplomáticas com nenhum outro país no mundo.

O otário aqui, chega com sua “mobilete” depois de passar a fronteira da Ucrânia sem problemas, e percebe que tem um monte de arame farpado, gente armada, sacos de areia fazendo trincheiras, etc.

Nossa, pensei eu, esses dois países não se apreciam muito...

Apresento meu passaporte como de hábito e o cara me manda estacionar a moto. Em russo.

Percebo o gesto e estaciono a moto.















Vou até ele e ele me pergunta em russo onde vou. Como meu russo é mais curto que coice de porco, respondo que vou a Chisinau, a capital (da Moldávia, o enemigo) para almoçar e depois sigo para a Romênia (que apóia a Moldávia).

O cara fecha a cara e me diz que alí não é a Moldavia, é a TRANSNISTRIA ( prefiro chamar de Trans SINISTRA) e que se eu quisesse ir à Moldavia, deveria voltar para a Ucrania e entrar na fronteira 300 kms mais ao norte.

Foi aí que a ficha caiu. Droga! Tinha esquecido deste paísinho comunistóide de opereta e fui me enfiar exatamente na boca do lobo! Que amadorismo!

O negócio agora era administrar.

O agente e seu colega continuavam a bradar instruções em russo.

Tento falar em inglês e eles endurecem, dizendo:

Ya ni pa ni maio! Rusky gavariu! (Não entendo! Fale russo!)

Dizem que devo esperar pelo chefe. Vou para a moto e espero.

Nesses casos, como não sou “motociclista de primeira viagem”, sei que devo ter paciência pois eles não vão me guardar ali por muito tempo. Você acaba se tornando um problema para eles.

Também sei que você precisa continuar mantendo a pressão.

Uns 15 minutos mais tarde, percebendo que todos os carros de cidadãos Ucranianios, Moldavos e Trans SINISTROS, passavam sem maiores problemas depois de preencher dois formulários de imigração, em russo, obviamente.

Voltei ao agente e perguntei a ele em inglês o que ele queria de mim. Ele continuou dizendo que não entendia. Sei que ele estava entendendo e continuei:

Por quê você está fazendo isso? Indaguei.

Vim como amigo, não tenho nada a ver com o conflito de vocês, simplesmente quero passar para poder retornar à Europa, onde vivo.

Aí, ele me disse, sempre em russo que eu deveria fazer uma “declaration” da moto e apontou vagamente um edifício a 100 m de distancia.

Fui até lá, encontrei outro agente uniformizado e perguntei sobre a tal de “declaration”.

O cara me entregou um formulário em duas vias, totalmente em russo obviamente, para que eu preenchesse. Por sorte, encontrei um caminhoneiro que falava alemão e consegui preencher os detalhes do formulário.

O agente veio verificar se eu estava preenchendo bem o formulário e se interessou por minha caneta.

Terminei de preencher e dei a ele a caneta de presente. Isso facilitou um pouco as coisas para mim pois ele mudou de atitude e passou a ser um pouco mais amigável.

Paguei 11 dólares pelo direito de entrar na TRANS SINISTRA.

Voltei ao posto de imigração e preenchi mais dois formulários.

Levaram meu passaporte para dentro de um posto policial e me deixaram esperando por mais 30 minutos.

Finalmente, o chefe saiu da casinha, entregou-me o passaporte e disse que eu poderia ir.

Deteve-se na frente da moto e disse: Nice motorcycle! ( Em inglês. FDP! Falava inglês, o sacana!)

É uma moto cara, disse eu em tom de vingança. Você não vai ver uma rodando em país comunista.

Entrei em um país não só comunista mas também surrealista. Era como visitar a Albânia na época do Enver Hoxha.

Pobres, atrasados e militarizados. Comunismo em 2011 é como se alguém vier e te disser: Cara, eu agora sou hippie!!!

As estradas, bloqueadas por barreiras, trincheiras e blindados do exército russo, mantém a paz de forma artificial em uma zona de exclusão desde 1993!

Zona de guerra não é novidade para mim. Vivi no Iraque nos final dos anos 80 durante a Guerra entre esse país e o Irã.

Minhas atividades profissionais me levaram muitas vezes a países em conflito ao longo de meus mais de 30 anos de viagens a trabalho.

De moto, estive na Bósnia, Kosovo, e outros pequenos países com suas guerras.

Fui, portanto, tocando minha moto pela bússola do GPS e tentando me fazer invisível a cada passagem de controle, atividade difícil quando se está sentado em uma GSA.

Meu rumo era noroeste para tentar chegar à capital.

Eu sabia que teria que chegar a uma barreira para poder cruzar para o outro lado.

40 kms depois de ter entrado na fronteira, 4 horas mais tarde, encontro o ponto de passagem para a Moldavia.

O pessoal da Trans “Sinistra” me deixa passar e o agente da Moldavia me pergunta se estou trazendo armas ou drogas, fazendo o gesto com a mão dos dois dedos juntos apontados e o gesto de se injetar no braço...

Finalmente estou na Moldávia que vou cruzar em 3 horas.

Detive-me na capital para comer um MacDonald’s como uma pequena vingança capitalista, visitei o centro da cidade, sem grande charme, com aqueles edifícios lisos, monstruosos e impessoais do comunismo.

Por uma estradinha em péssimo estado de conservação fui me dirigindo à fronteira com a Romênia onde dormiria para cruzar este último no dia seguinte.

O dia foi cheio. Surpresas, tinha tido todas.

Agora, é pensar que estou retornando para casa. Com uma ponta de tristeza, percebo que minha viagem vai chegando ao seu epílogo.

Daqui da fronteira da Romênia, são 2500 kms até Chantilly.

Amanhã vou curtir as estradinhas perigosas e fascinantes da Romênia, um país que, apesar de membro da União Européia, ainda vive dentro de suas tradições como há 50 anos atrás.

Depois da Romênia, a Hungria, Áustria, Alemanha e, finalmente, A França.
 
 
 
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Comentários (2)

2/2/2017 19:58:49
TP8NPW9U2FGC
I went to that link AND YOU SAY I’M AN ADOLESCENT DICK because I’m on Facebook. HA! I say–HA. That was one of the most CHILDISH websites I’ve ever been on–it so puts UTUBE to shame. This link opened to Homer Simpson and a bunch of other cartoonish, garishly colored icons. Goodbye, John, goodbye sweet prince. ARGHHGHGHHH!!! I’ve lost one of the only literate connections I had. Sob. Yer killin’ me, man.
 
28/6/2016 15:44:47
OLOB7ZSG8K
Now we know who the selinbse one is here. Great post!
 

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