De Viena (Áustria) para Chantilly (França)
02 de junho de 2011
Passei a noite em uma pequena pousada nos arredores de Viena. Tinha feito no dia anterior 800 kms, incluindo 300 na difícil Romênia e estava muito cansado para entrar no transito da bela Viena.
A pousada que consegui por modestos 43 euros com o café da manhã incluído, me convinha enormemente. Além do mais, dispunha de um excelente restaurante e, depois de muitos dias, pude apreciar uma cozinha mais sofisticada, acompanhado de um excelente vinho tinto austríaco.
Acordei cedo neste que viria a ser meu último dia desta fascinante viagem.
Ainda, no café da manhã, considerava fazer um pernoite na Alemanha antes de chegar em casa.
Decidi, no retorno, não visitar os Mosteiros Pintados de Bucovina, na Romênia, pois já os tinha visto em viagem com Graça em 2007.
Eu os tinha incluído no programa para mostrar a meus amigos italianos mas, como acabei continuando a viagem em solo, não fazia sentido para mim perder um dia por essa razão.
Chegar com um ou dois dias de antecipação em casa me permitiria ter o fim de semana para descansar e retomar meu trabalho na segunda-feira, repousado e feliz.
Uma vez tomada a excelente auto-estrada austríaca, sempre com o sol nas costas pela manhã e no rosto à tarde, vejo que, apesar de ser um feriadão católico e as estradas estarem muito movimentadas, posso desenvolver uma boa velocidade.
300 kms depois, já passando a fronteira da Alemanha, em Passau, vejo que o GPS me dá uma chegada em casa às 19:15 hs.
É óbvio que o GPS não considera as paradas para abastecimento, pipi e descanso.
Se eu calcular 1, 1:30 hs para isso, chegaria em casa em torno das 20:30 hs.
Viável, pensei.
De qualquer forma, são 1300 kms. Um recorde de distância em um mesmo dia para mim.
Neste primeiro dia de um longo fim de semana de feriado, verifico que as estradas Austríacas e Alemãs estão abarrotadas de motociclistas.
Todos se cumprimentam, conversam nas estações de serviço e se encontram nos restaurantes de beira de estrada.
É a paixão deste veículo estranho, perigoso e ao mesmo tempo fascinante.
Quando você está em uma viagem de motocicleta, seu corpo, seu espírito, sua mente e sua alma, estão expostos às intempéries físicas, psicológicas e emocionais de uma jornada como a qual eu vou terminando agora.
Não gosto de chamar minhas viagens de expedição nem de aventura. São apenas viagens de turismo. Um turismo diferente, mas sempre turismo.
Enquanto vou curtindo a boa estrada, sua ausência de buracos ou irregularidades no asfalto, vou lembrando de todos aqueles lugares em que passei e que agora, nesta paisagem perfeitamente organizada em um ambiente totalmente europeu, me parecem tão distantes e remotos.
Entretanto, todos esses lugares, essas pessoas, as situações, os momentos, os amigos que fiz, as dificuldades que passei (felizmente, não muitas), tudo ficou indelevelmente impresso em mim.
É como se meu espírito tivesse recebido uma nova tatuagem de lembranças registros e emoções.
Como é bom viajar! Como é bom viajar de moto!
Que bela reação causa a moto nas pessoas!
Os dias que passei com meus bons amigos italianos foram cheios de carinho e amizade. Compartimos experiências risadas e momentos adoráveis.
Agradeço a eles pela generosidade de ter entendido quando disse que gostaria de continuar minha viagem sozinho para poder assim, ter mais contato com as pessoas e lugares que visitaria.
Sou privilegiado por poder fazer o que mais gosto. Este privilégio, se apóia em vários pontos essenciais:
O tempo necessário para a viagem, os recursos financeiros, a excelente motocicleta e o equipamento que utilizo e, sobretudo, a vontade de fazê-lo.
Quando você consegue reunir todos esses elementos, que é o meu caso, seria realmente um pecado não se lançar à estrada.
Chegando em casa, terei percorrido 9.860 kms em 21 dias.
Cruzei 14 países e fiz uma média de velocidade de 87.5 kms/h ao longo desta viagem (Esta última sensivelmente aumentada pelos 3000 kms de autoestradas européias na saída e na volta, com velocidades médias de mais de 130 km/h).
Foram 611 litros de gasolina e 112 horas sentado sobre a sela da moto.
Acima de tudo, se o que escrevi neste site, (com o apoio de meu amigo Eduardo Wermelinger a quem agradeço aqui, por sua disponibilidade e eficiência em prontamente encaminhar meus textos e fotos), se o que escrevi, servir, uma única vez, para apoiar a viagem de outro amigo motociclista, já terá largamente e absolutamente valido a pena.
Sou absolutamente grato pelo apoio e incentivo que recebi de vocês, amigos que não conheço pessoalmente, e com os quais compartilho esta paixão pelas duas rodas, pelos comentários colocados no site do Rotaway.
Obrigado pela paciência demonstrada para com este cronista amador.
Vocês viajaram comigo, na sela de minha moto e no calor de meu coração.
O perfume da floresta chegando à minha querida Chantilly, é um claro sinal de boas vindas.
Faço uma última foto em frente a seu belo castelo, antes de chegar à minha casa.
Abraço a todos e até a próxima!!
E estejam certos de que haverá uma próxima.
Ricardo Lugris