MINHA 1ª MOTOCICLETA
Antes de comprá-la olhei várias outras, admirei algumas, cheguei até a fazer (test-drive) com uma ou outra, porém só descansei quando me encantei com ela. Até parece que o destino aguardou um tempo para apresentar-nos depois da cansativa procura que tive até encontrá-la.
Ao sentar-me no seu macio mas vigoso banco, imediatamente percebi que a dominava carinhosamente com minhas pernas quadris e braços, com forte sensação que teria facilidade para manter-me firme e seguro sobre ela; que poderia fazer curvas e arrancadas e ela, obediente, atenderia meus comandos onde quer que fôssemos.
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Formávamos o par perfeito! Mas nem por isso ela era submissa, pois de tempos em tempos mostrava-me sua personalidade na forma de um enguiço e até mais drasticamente, provocando situações que me fazia ir ao chão. Sem gravidade, é verdade, só de maneira que me fizesse compreender o quão irresponsável estava começando a me portar na forma de conduzi-la. Atitude essa que poderia levar-me a sério problema quanto à minha integridade física, caso não me corrigisse. Dessa forma corrigia-me, evitando que eu viesse sofrer danos mais sérios por imprudência ou imperícia, ou até mesmo por pura ignorância. Às vezes um pouco agressiva, sem dúvida, mas era esse o meio que possuía para mostrar-me atitudes erradas que eu estava assumindo e ao mesmo tempo evitava que eu sofresse um mal maior ou até irreversível.
Ah... como passeamos! Levou-me a belos e encantadores lugares, os quais jamais pensara conhecer. Deu-me até mais (status) pois as garotas passaram a gostar mais de mim (será que era de mim mesmo que gostavam?). Com isso os passeios tornaram-se ainda melhores, porque novos locais eram visitados e aproveitados, graças a mais esse encanto feminino. Até a moto demonstrava estar também gostando, pelo fato de até parecer indicar-nos lugares melhores, mais aprazíveis e até reservados.
Dessa forma passei a conhecer melhor minha cidade, como também outras localidades com suas tradições, costumes, climas e pessoas diferentes.
Após alguns anos de muita amizade e carinho, finalmente chegou um dia em que saudosamente teríamos de nos separar fisicamente mas não emocionalmente, pelo fato de ter ficado alguma saudade.
Da mesma forma que um filho separa-se da sua mãe para ter, dali por diante sua vida própria de adulto, o mesmo aconteceu comigo. Bastante experiente e desejando moto com maior potência e conforto para poder empreender viagens mais longas, optei por uma que despertou minha atenção, pois com ela iria ampliar meus caminhos e iniciar grandes aventuras Brasil afora.
Aí aconteceu a nossa separação após muitos anos de mútuo carinho e admiração
Entretanto fiz questão de vendê-la a um amigo que sempre me dizia: “Seu João! Não é que eu queira tirar do senhor a sua motocicleta. Mas quando pensar em vendê-la, que seja eu o primeiro a ser comunicado. Vou comprá-la pelo preço que o senhor estabelecer, mas ela continuará sendo sua. Poderá usá-la o dia e hora que quiser. Ela continuará como se fosse sua!
Então, no momento em que tive de vendê-la passei-a tranquilamente para ele por saber que seria bem tratada.
O que realmente aconteceu, pois ficou sendo muito bem cuidada.
Anos depois, por questão de desencontros e ter ele mudado do Rio de Janeiro, não mais vi o amigo.
E também nunca mais soube da minha querida e saudosa primeira motocicleta!
João CruzLivro Motociclistas Invencíveis