Perseguindo o Amanhecer - Ricardo Lugris

16/08/2015 - Yoga e meditação nos Urais

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Duas noites tranquilas, de sono profundo e reparador, passeios junto ao belo lago, yoga e meditação nos Urais, sauna, piscina e boa comidinha russa em um bufê, (assim não sou obrigado a pedir Borsch), é tudo de melhor para se aquerenciar e começar a esquecer que ainda faltam milhares de quilômetros para chegar ao fundo deste imenso país.
Se eu realmente quisesse um hotelzinho de montanha junto a um lago, iria para Gramado ou Campos do Jordão, correto?
Portanto, juntei a motivação, minhas já enxutas tralhas, paguei a conta ( notando que a recepcionista continuava olhando para o piso sob mim para ver se não estava molhado) e parti na direção do Kazakistão, com a fronteira a 300 km de distância.
Escolhi uma estrada secundária, mesmo sabendo que ela seria bastante precária, compensando entretanto, com uns 60 km a menos do que a estrada principal.
Juro que tive a impressão ao sair, que a BMW tinha mais energia, ronronava como gata no cio e macia como pelêgo novo.
Quem sabe ela também tinha descansado?
O bom tempo e o excelente humor voltaram. A vida é bela, o tempo é disponível e os horizontes são vastos.
Apesar da equilibrada distribuição de buracos nesta estrada, fico feliz de ver que ela passa por harmoniosas paisagens de grandes plantações de trigo.
Noto algo estranho junto à estrada e levo algo de tempo para perceber que falta algo no cenario.
Finalmente descubro: Falta a cerca.
As propriedades rurais na Rússia ainda funcionam através da cooperativas locais e são o último bastião do socialismo fundado pelo Vladimir Illich.
Para que cercas, se não há donos?
Assim, em uma espécie de auto-descoberta, percebo tambem que o GPS parece estar fazendo "experiências" pelo seu lado e vai me conduzindo por estradas cada vez mais estreitas, menos asfaltadas, sem asfalto, de terra, de pedregulhos, ruas em uma aldeia, vila, vilarejo, fazenda, stop!
A Mobilete não gosta de girar em estradas de metro e meio de largura.
Dou meia volta, como posso e retomo as coordenadas. , O GPS, com programa russo, insiste, teimoso que é.
No fim, começo a perceber o beco sem saída.
Será que o mundo acaba aqui e eu não percebi?
Tudo é possível em uma viagem de moto...
Meu mapa de papel não dispõe do nível de detalhe que eu preciso neste exato momento.
O GPSKOVSKY me manda ir pro Norte quando a bússola, Marcopolo e eu, sabemos que a fronteira fica para o Sul.
Cara-ou-corôa podem me custar horas preciosas que vão me fazer falta na passagem de fronteira entre a Rússia e o Kazakistão.
O negócio é perguntar. Quem tem boca vai a Astana.
Faço sinal a um motorista que vem no sentido contrário. Avança lentamente pois a estrada é de terra. Ele se detém e desce do carro.
Falem o que quiserem, mas os russos são sempre amáveis e solidários.
Digo a ele o nome da próxima cidade precedido da proposição "na", que quer dizer, "para".... Na meu exíguo domínio da lingua de Tolstoi.
Ele se aproxima, dá uma olhada no meu mapa, tenta o GPS ao mesmo tempo que eu digo, entre dentes, (não conte com esse daí ele deve ter bebido uma daquelas vodkas caseiras....).
Começa então uma série de explicações de direção, " nalieva", "naprava", "priamo". ..
(Nota do Tradutor: esquerda, direita, em frente...).
Faço cara de camelo. Ele percebe que "ia nipanimaio" (N. Do T.: Eu não entendo) "bulhufas" (N.doT.: bulhufas).
Então, volta so seu carro e decide me levar até a estrada.
Aquela via que meu GPS diligentemente extraviou.
Faz 6 km comigo colado à traseira de seu bólido japonês.
Não sei por quê, quando um motorista deve conduzir uma moto até algum lugar, sempre sai em disparada.... Acho que é um problema psicológico...Nessa, comi uma poeira brava!
Mas em todo caso, eu estava empoeirado e muito agradecido.
Um belo e nobre gesto de um desconhecido que não será o primeiro nem o último por estas terras.
Bem, achamos, (sobretudo o meu salvador Rusky) a estrada em questão e eu terminei os 100 km que faltavam até a fronteira já em plena Ásia Central.
Deixo a Rússia como Brasileiro e entro no Kazakistão como Francês.
Passagem rápida do lado Russo, apesar de que eles NUNCA entendem porque os brasileiros não precisam de visto para a Rússia do Tzar Vladimir.
E não querem explicação, fique na sua e espere as verificações: Folhear o passaporte 4 vezes, verificar lista de países, voltar a folhear, chamar chefe, voltar a folhear, olhar para você com cara de mau, chamar chefe do chefe, carimbar e...Dasvidania! (N.doT.: Adeus!).
Saio do lado russo e passo ao lado Kazak.
Indicam-me com un gesto onde deixar a moto e ir fazer o controle de migração.
Tenho visto no passaporte francês.
Procedimento padrão, 30 minutos e, Dasvidania! (N.doT.: Já traduzido).
Tudo certo no controle de documentos, saio para recuperar a moto e ela estava no chão. Deitada, para ser mais preciso.
Visão de Dante! Com meu capacete a meio gol entre as duas rodas de um enorme caminhão.
Com cara de "guri borrado" o policial Kazak me disse que tentaram mover a moto pois ela atrapalhava a passagem, mas que ela está muito pesada e.... caiu!
Assim. Porque sim...
Pego meu capacete, antes que eu tenha que voltar e comprar um de aço como o da minha foto do perfil no FB e chamo mais dois ou três voluntários no pedaço e, Adin, Dva, Tri, (N.doT. um, dois, três ), e levantamos a Mobilete carregada.
Ela é boa de tombo. Não houve nada.
O único dano deve ter sido no amor próprio do soldadinho com cara de envergonhado, pois não deixei que ajudasse a levantá-la, com um determinado gesto de mão e um olhar "marvado". (N.doT: O tradutor não achou "marvado" no dicionário de Russo).
Assim, sem maiores percalços estou no Kazakistão, no que se chamava antigamente de Ásia Menor, hoje, Ásia Central onde, graças à independência da URSS, ao Gás e ao Petróleo, esses países estão experimentando um boom de desenvolvimento jamais visto desde os tempos de Tamerlano e Gengis Khan.
Daqui para Astana, a capital, serão 800 km.


Ricardo Lugris
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